Desde criança sempre penso em quando e como o mundo vai acabar. Mamãe sempre dizia que esses papos eram constantes mesmo em sua época, e que o mundo ainda assim seguia de pé, mas eu mantinha forte em mim a sensação de que, em algum momento da minha vida, eu me depararia com o fim do mundo.
Nos meus sonhos o fim do mundo sempre vem acompanhado de várias luas no céu. É tão frequente que, ao ver o céu com mais de uma lua, já sei imediatamente que meteoros cairão, ou uma imensa onda vai surgir arrastando tudo, ou o fogo vai se espalhar por todas as partes. É tiro e queda e o fim do mundo se espalha até que eu acorde.
Não sei de onde surgiu essa minha devoção. Acho que só me parece óbvio: aquilo que existe um dia deixa de existir. Oportunidades não faltam, temos um universo inteiro de grandes massas viajando com velocidades incríveis, todas elas esperando uma oportunidade de se chocar em algo grande e fazer história. Por que não aqui?
Não é que eu QUEIRA que o mundo deixe de existir, eu gosto bastante do mundo, gosto mesmo. Temos belas árvores, animais engraçados, umas paisagens de tirar o folêgo e nossa água é gostosa de beber e mergulhar. Mas não basta. Barragens se quebram, chuvas se tornam deslizamentos, a floresta que na minha infância era conhecida como "pulmão do mundo" aos poucos se torna pasto pra gado, é, mundão, as perspectivas não são muito animadoras. O Trump quer invadir a Venezuela. Nós, como bons animais de estimação, estamos ao lado dele, sempre obedecendo qualquer chamado dos gringos. O mundo mais uma vez se sacode, provavelmente tentando tirar as pulgas que o parasitam, mas somos muito resistentes.
Quando criança, eu achava que o mundo acabaria graças àquele vulcão gigante nos EUA, ou alguma quebra incalculável em alguma placa tectônica, ou o famoso meteoro. Não, hoje eu sei, é fácil ver, existem coisas tão perigosas quanto um desastre climático, nós mesmos vamos nos destruir, assim como nós mesmos envenenamos nossa comida e o solo onde ela cresce.
A humanidade sempre tentou calcular o fim do mundo, é lógico, nós sabemos que ele é inevitável, sabemos que não vai demorar tanto quanto a velhice do Sol, sabemos nossa capacidade de destruir tudo em que tocamos, como não saberíamos? É só olhar ao redor. O que vai nos destruir é nossa sede de guerra.
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