segunda-feira, 18 de fevereiro de 2019

Berinjela

Confesso que tive preconceitos quando te vi pela primeira vez. Não sei, parecia tão diferente de tudo que eu já tinha visto! Sabe, sou taurina, eu até gosto das mudanças, mas elas me aterrorizam muito e, até o momento-chave, onde o medo passa a barreira e o conhecimento encontra uma forma de chegar até mim, meu coração palpita.
Não sei. Eu gostava do seu jeito cru, gostava da sua aparência bonita e do jeito que sentia seu toque, mas a coragem -ah, a coragem!- se esvaziava e eu me afastava, envergonhada, sem tempo para novos desafios. Melhor não.
Um dia, em uma terra distante que quase nem lembro, longe de tudo aquilo que eu considerava conhecer, não fugi, era o que tinha e eu aceitei, seria o momento de te conhecer melhor.
Seu aspecto praieiro, à milanesa, foi a primeira coisa que me chamou a atenção, o cheiro de mar, fritura, calor, muita gente ao redor, burburinho, movimento, pouco tempo para pensar, era a hora. O primeiro toque veio sem expectativas: sincero, nu, salgado de mar. Arfei fundo com a descoberta, e eu gostei! Minhas verdades caíram pelos meus dedos, fragmentadas, eu já não entendia nada, como pode? Depois de tantos anos, considerada mulher adulta, era como descobrir, depois de anos morando em Curitiba, que o céu era azul. Te engoli junto com meu orgulho, sabe como é, quando conhecemos algo novo não queremos mais largar, mas tudo tem um fim, sempre tem, e desde o primeiro momento eu soube que eu iria sofrer no final. Faz parte, aproveitar o momento é uma arte, saboreei, acabou, mas eu nunca esqueci.
E agora estou aqui, tirando vinte minutos do meu dia para um exercício de escrita já programado, para honrá-la como daquela primeira vez em que te pus no prato, sempre grata, berinjela. Obrigada.

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