domingo, 22 de março de 2020

Narcisa

Uma vida de extroversão e intensidade, medo sempre presente, mas nunca paralisante. Os problemas mudaram e a complexidade deles também, dizem que é natural, mas só possuía o próprio ponto de vista como referência, mesmo que fosse atrás de vislumbres alheios, mas a verdade era imutável: o seu universo era tudo que tinha, e cada um tinha um só seu. Confuso, os limites são sempre flutuantes.
Então olha para dentro. Entender o mundo é um conceito muito subjetivo, mas pode se entender no mundo. Aí se pergunta "consigo?" e a resposta vem, com a própria voz, "não. Por enquanto não. Ou talvez nem fodendo, para sempre". Nunca iria entender o mundo, não devia, era um ponto de vista único e criaria o mundo que busca.
A voz novamente "consigo?". "não. Por enquanto não. Ou talvez nem fodendo, para sempre."
Então veio a fobia social. Se não consegue entender o mundo e nem o seu papel nele, do que valia tudo aquilo?
Essa resposta ainda não chegou, mas se assumiu como criadora. Se tudo que tem é a chance de inventar mundos mais fáceis, entra na própria mente, em um mundo estabelecido por si mesma, que seja, foi uma vida de extroversão e intensidade e, ao lembrar do passado, também lembra que recebia mais respostas quando não as buscava tanto, por estar viva, se sentir viva. Jogou o universo para o próprio umbigo e aceitou a singular perspectiva, limitada, mas bem intencionada. Defeituosa, mas honesta. Sempre com algum toquezinho brega de auto-ajuda e auto-piedade, faz parte, não quer ter mais vergonha de ser o personagem que é, acha que todos somos (será?).
E se perde quantas vezes for necessário, desde que não desista está tudo certo, se tem uma coisa que aprendeu nos últimos tempos é que todos nós estamos conectados e sempre existe o dia de amanhã (senão aqui, em outro lugar).