terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

A vida como está

- Escrevi meu livro como uma condenada, e aí parei, fazem três dias. Meta: voltar antes que as férias acabem.
- Minhas férias foram fazer trabalhos, resolver obstáculos, escrever e trabalhar.
- Meu companheiro cuidou da arrumação da casa inteira e me alimentou quando estive empenhadíssima escrevendo (mesmo que o momento tenha durado semanas), e agradeço, porque não precisei interromper minha escrita pra lavar uma louça.
- A faculdade como instituição tem sido uma decepção constante em minha vida, falhando miseravelmente em seu papel social.
- Fui ontem na Caixa d'água (riozinho gostosinho agradável quinze minutinhos de casa) e foi muito delicinha.
- Comecei a perceber a relação entre meu sentimento de vontade de voltar pra minha terrinha e a minha menstruação, e tem gerado reflexões interessantes.
- Tô sofrendo com o fim das férias.
- Tenho ganhado muitos presentes (não necessariamente físicos, as vezes simbólicos) das pessoas à minha volta, e tem sido bem gostoso.

Reflexão-mor dos últimos tempos:
Não rola viver fugindo do perigo, porque ele continua aí. O esquema é escolher quais perigos você quer correr e vai que vai!

Onde sou?

Em todo lugar que eu vou me procuro, não acho, não me curo
em todo lugar que eu vou não me encontro, eu caio em apuros
não me vejo refletida em seu olhar, não me vejo na mesa do bar
não me vejo na festa da escola e nem em qualquer lugar
não me vejo na praça com os velhos que jogam milho pro pombo comer
não me vejo na praia com aqueles cachorros que só sabem correr
Pensei em talvez me achar por aí, caminhei pelo calçadão
não me vi nas ruas, não me vi na praça e nem na liquidação
não pude me achar dentro da igreja com o pastor a berrar
procurei no céu e também no inferno pra tentar me encontrar
não me vi no jornal e nem na tv, cinema nem pensar!
em bairro de rico, em bairro de pobre, eu nunca tava lá
já perdi as contas de em quantas vezes no espelho eu quis me ver
e ao mesmo tempo era o lado de lá que tentava me reconhecer

Em todo lugar que eu vou me procuro, não acho, mas me curo
em todo lugar que eu vou não me encontro e não caio em apuros
não me vejo refletida em seu olhar mas eu nem preciso estar lá
e se nos lugares onde vou não estou, me ponho a caminhar
e então eu percebo que já não preciso olhar pra fora assim
no fundo eu sabia que estava escondida aqui, dentro de mim

(2015)

sábado, 18 de fevereiro de 2017

A força tá no sangue

Ser mulher
Senciente
Completa
Presente

Sou mulher
Enquanto me querem costela
Minha existência traz a vida
A sua, a minha

Ser mulher
De todas as cores
Em todas suas formas
Múltiplos valores

Sou mulher
Desconfiada sempre
Acusada constantemente
daquilo que nunca fiz

Ser mulher
Amordaçada
Machucada
Enganada

Sou mulher
Desafiada sempre
Contestada constantemente
Provar para você, para mim

Ser mulher
No jorrar do sangue vermelho
Do útero ou da maldade humana
Escolher ser puta ou dama

Sou mulher
Inabalável
Resistente
Passado, futuro, presente





sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017

O país



Na atual conjuntura política, sinto medo de postar qualquer coisa sobre o país onde moro. Percebo tranquilamente que meu blog não representa perigo nenhum para que eu sofra qualquer consequência, mas não posso ignorar que qualquer forma de liberdade de expressão pode se tornar problem em um modelo repressivo. Sei lá, persperctivas desanimadoras somada com paranoia absurda, meus amigos, e vivo em um país onde se torna fácil surgir esse tipo de pensamento.

Abriram a caixa de Pandora

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017

Continuação do Post Passado (ou Continuando o Passado em um post)

Vou escrever enquanto eu leio porque sinto que fica mais fácil fazer a análise. 
Aqui estou eu, em minha casa, tratores passando pela rua para enfim começar o processo de saneamento básico em algumas áreas da cidade, na realidade do tempo AGORA. Estou lendo sobre a minha vida pela perspectiva da "Lua-Postadora-de-Desabafos", buscando lembrar das coisas que minha memória me forçou apagar, e aprendendo um tanto TANTO sobre mim.
Vou escrever esse post como sempre escrevi os outros: para meus leitores imaginários, que hoje se mostram como a Lua-Do-Possível-Futuro, e deve ser lido assim: algo parcial, de alguém que analisa algo que já viveu, mas sem a cabeã de quem já viveu tudo que pode viver. Um ponto de vista, enfim, como sempre foi (mesmo quando eu achava dar a verdade absoluta). Não é para ofender ninguém, e pontos de vista não são imutáveis.
Quando parei de ler ontem, estive no término do meu primeiro namoro (o qual morei junto por um tempinho que me parecia muito mais), e foi algo muito barra-pesada pra mim, ainda mais entendendo hoje o quanto me deixei "virar" ele. Quando ele me deixou, fiquei sem chão, porque eu não sabia quem eu era, o que eu gostava, o que almejava para minha vida, além de odiar tudo que representava ser eu [mulher/ nordestina/ pessoa-que-tem-emoções/ não necessariamente heterossexual (essa é uma das análises mais fortes que virão esse ano, explico mais depois, em outro post, no futuro)/ milhões de coisas que hoje em dia amo em mim etc]. Estava difícil conviver comigo mesma, e eu fui forçada a aprender.
Só que, antes de aprender, eu decidi em algum lugar da minha cabecinha estranha que sair da zona de conforto não era a opção mais divertida, e preferi me enganar. Em vez de lidar comigo mesma, empurrei minha carência goela abaixo de outro, forçando um namoro que ambas as partes não queriam e ambas as partes tentaram se enganar de que poderia dar certo.
Não vou tratar aqui de heróis ou vilões. Sei que nessa época aprendi um pouco mais sobre o feminismo (embora fosse um "meu namorado me deixou ser feminista", ao menos no início), e aos poucos (bem aos poucos, e ainda tem sido, e será para sempre) aquilo foi fazendo algum sentido na minha cabeça. Anos depois, está sendo difícil encarar o quanto eu perdi por não ter conhecido o feminismo antes, mas ok, voltemos.
Hoje entendo que cometi um grande erro com meu segundo namoro, que foi exatamente esse de usá-lo como substituição para uma carência que mais tinha a ver com aprender a lidar comigo mesma do que com ter alguém do meu lado. Entendo que isso não foi certo, nem justo, e causou uma série de problemas para nós dois. Não que eu ache que sou a grande culpada do relacionamento e bláblá, até porque, como eu disse, não estamos atrás de heróis e vilões, mas eu acabei por enganar até a mim mesma. Eu queria amar, eu queria criar algo, e eu me dispus, em meio à minha baixa alto-estima, a fazer isso com qualquer um que estivesse minimamente disposto. Isso é tão errado com tudo que eu acredito, mas eu só acho isso porque precisei passar por tudo, e é isso aí. Vivendo e aprendendo.
Meu segundo relacionamento não durou muito, ou pelo menos de forma oficial, e quando terminamos pela primeira vez ele teve grande facilidade de lidar com o fato e seguir a vida, eu não tanto quanto gostaria. E ao mesmo tempo sim, porque, relendo, foi a época em que produzi textos até que bons, e gerei coisas que trago até hoje com muita força. E ter passado pelo primeiro término me ajudou com o segundo, eu já entendia que não era o fim do mundo e sim o início de milhões e milhões de possibilidades.
Só que eu desperdicei, e a zona de conforto parecia maior, então seguimos nos predendo em diversos termina-volta, que só geravam mais dor e insegurança.
Em meio à toda essa tristeza, foi nessa época (tarde, mas nunca tarde demais) que comecei a entender (e ainda tenho muito a aprender) que posicionamentos e falas nossas podem magoar outras pessoas por coisas que a gente nem registra porque muitas vezes nem vivemos. Passei a entender a política mais como micro e menos como macro e ver como eu e meu comportamento também éramos (somos) política. 
Ao ficar definitivamente solteira, a minha vida mudou. Em vez de ficar chorando porque eu não poderia mais "ser" meus relacionamentos anteriores, decidi descobrir o que eu poderia ser. O ano em que isso aconteceu foi muito complicado, porque estava morando com minha mãe, trabalhando formalmente pouco, depois de duas faculdades não-concluídas, e o peso disso era complicado de lidar, mas também foi aí que super-desenvolvi malabares, tirinhas, Os Reinos e todas as coisas que eu verdadeiramente quero fazer na minha vida. O medo de ir em direção ao novo foi complicado, mas vendo o que construi (ainda pouco) desde então, percebo que foi uma das melhores escolhas que carreguei até então.
E é CLARO que eu não poderia aprender de primeira. Até aí estava tudo bem, eu estava tendo uma vida social animada, eu estava produzindo, eu estava melhorando dos meus sentimentos freiadores. E aí eu entrei em um relacionamento aberto com aquele namorado cujas coisas não davam bem no fechado. É claro que isso também não durou muito, mas tem o valor de ser citado porque também gerou coisas que carrego até hoje (e tenho trabalhado, eu ouvi um amém?). 
No fim do ano de 2014, eu já sabia que viria para cá.
Não precisou me demorar muito sobre como minha vida mudou ao sair de Curitiba. Como sempre, eu sou outra Lua hoje, e os últimos dois anos parecem uns seis, ao menos. Ainda assim, vejo em mim diversas coisas mal resolvidas, várias oriundas de minha vida curitibana, várias que me perseguiram nesse ano que passou.
E me sinto bem pronta, na verdade. Considero confiança demais um perigo, mas não quero ser freiada pelo meu medo constante. Tenho guias fortes, se não confio em mim posso ao menos confiar neles, que isso já é confiar em mim também.
Não sei como concluir esse texto, porque estou cheia de informação da minha última década fervilhando na minha cabeça, mas posso dizer que, se minha ideia de vida é olhar para o passado e me sentir boba (porque isso significa que não estou parada, e sim avançando), eu fiz direitinho, e vou continuar fazendo.
 Acho que foi legal ler tudo isso pra ver que, por mais que eu goste de pensar que sou uma inútil que sempre erra e erra e erra, eu aprendi bastante. Minha vida tem estado em uma dimensão que me atrai: eu, produzindo e com a cabecinha no lugar, com uma casa cheia de bichos e um companheiro que não é perfeito, mas tem o que eu sempre pedi em alguém que fosse ficar ao meu lado: cumplicidade, disposição para evoluirmos mentalmente e, por fim, não grila com a minha liberdade individual. E mais do que isso, tô rodeada de amigos, entre os novos e os velhos (Rodolfo mesmo tá aqui em casa hah), e tô disposta a continuar passando por quantos perrengues e problemas e obstáculos forem necessários para que eu me torne uma pessoa cada vez mais e mais próxima da pessoa que eu quero ser.

É bonzaço estar viva, encarnada ou não, legal é existir.
eu ainda estou aqui
vocês também, gente



A gente cresce e nem vê (ou Espiral)

Hoje comecei uma trajetória que nunca tinha experimentado: li o meu blog desde sua criação até o final de 2012 (o resto ficou para amanhã).
É assustador ver o quanto a gente muda. O quanto a gente acha que sabe sobre o mundo, sobre a vida e sobre nós mesmos, e do nada mudamos, e então nem notamos.
Hoje li sobre o começo da minha formação de caráter, a saída da infância para a adolescência, e então a entrada para a fase novo-jovem. Ao ler uma parte do que pensava enquanto vivia a época, passei por grandes grandes reflexões, notei várias coisas sobre mim que nunca tinha percebido. Várias lições aprendidas e inúmeros obstáculos a serem superados ainda.
Das mudanças que fui acompanhando com mais facilidade, uma das mais fáceis de notar é que eu sentia muita necessidade de falar palavrão, xingar, usar palavras ofensivas, ser agressiva. Não sei se foram os hormônios, o social próximo ou uma raiva contida, mas eu adorava reclamar, e minhas críticas eram mais parecidas com uma porradaria de xingamentos do que com argumentos. 
Falando em reclamar, céus, como meus pais me aturaram. Eu ando tranquila em relação meus pais, mas ainda tenho muitas dúvidas e análides sobre minha criação e nossa relação, mas uma coisa não posso negar: haja paciência. Nos meus primeiros posts sobre a minha mãe, aqueles de quando eu era bem mais nova e extremamente mimada, não teve UM que não achei minha raiva e crítica infundada. Ela geralmente estava certíssima, o problema sempre era a comunicação, e era mais um problema meu também. Depois nossos problemas de relação foram evoluindo e ficando mais complexos, não trazendo "culpadas" e "vítimas", mas deixaram de ser "minha mãe ficou brava porque não lavei a louça ODEIO ELES VOU FUGIR DE CASA ARRRRRGH!". Ah, e todo semestre o boletim rendia um castigo!
Dentre as coisas que percebi, a que mais me assustou foi minha relação com mulheres. Na primeira parte da minha vida, eu praticamente odiava tudo que tivesse relação (uma relação criada) com o feminino: saltos, maquiagem, batom, amigas mulheres, 'parecer mulher'. Era uma necessidade de ser "a amiga-moleque", "quase um homem" e todos esses blá blá blás. É assustador, porque eu sei que não refletia sobre isso, só aceitava o que o social me arremessava, e engolia direitinho. E isso me causou mas tanto TAAAANTO problema que, céus, tem coisa que perdura até hoje. Ainda. E, falando em social, eram pouquííííííssimas as reflexões que eu tinha sobre, e eu falava tanta bosta.
Percebo também a existência de algumas "Luas" (isso analisando apenas até 2012), alguns momentos que mudaram a minha vida, com seus altos e baixos, e que se não tivessem acontecido tudo seria tão diferente que nem imagino.
Namorar só não foi uma experiência melhor do que ser largada (falo sério, porque por mais personalidade que eu tenha e blábláblá, eu virei meu primeiro namorado. Precisei que ele me largasse para descobrir quem eu era mesmo e do que gostava); sair de casa foi algo que mudou a minha vida, passei a entender muito mais minha mãe, o mundo, passei perrengue demais, nunca que meu blog mostraria o tanto de coisa que aconteceu, mas foi muito importante pra mim.
Minha vontade é escrever por dias, porque minha cabeça está fervilhando com o tanto de coisas que descobri de mim, isso porque fui lembrando de várias coisas na época, coisas que eu nem postava (e nem lembrava exatamente), e UAU. Vou me contêr, amanhã lerei o resto e volto com o que mais me der vontade de escrever.


É bom estar viva, 
é bom ter 23 (quase 24),
e saber que talvez, só talvez
venham vários anos por aí
e aí eu vou ler sobre a época de agora
e pensar
"MEUS DEUSES
como eu era tola."