Vou escrever enquanto eu leio porque sinto que fica mais fácil fazer a análise.
Aqui estou eu, em minha casa, tratores passando pela rua para enfim começar o processo de saneamento básico em algumas áreas da cidade, na realidade do tempo AGORA. Estou lendo sobre a minha vida pela perspectiva da "Lua-Postadora-de-Desabafos", buscando lembrar das coisas que minha memória me forçou apagar, e aprendendo um tanto TANTO sobre mim.
Vou escrever esse post como sempre escrevi os outros: para meus leitores imaginários, que hoje se mostram como a Lua-Do-Possível-Futuro, e deve ser lido assim: algo parcial, de alguém que analisa algo que já viveu, mas sem a cabeã de quem já viveu tudo que pode viver. Um ponto de vista, enfim, como sempre foi (mesmo quando eu achava dar a verdade absoluta). Não é para ofender ninguém, e pontos de vista não são imutáveis.
Quando parei de ler ontem, estive no término do meu primeiro namoro (o qual morei junto por um tempinho que me parecia muito mais), e foi algo muito barra-pesada pra mim, ainda mais entendendo hoje o quanto me deixei "virar" ele. Quando ele me deixou, fiquei sem chão, porque eu não sabia quem eu era, o que eu gostava, o que almejava para minha vida, além de odiar tudo que representava ser eu [mulher/ nordestina/ pessoa-que-tem-emoções/ não necessariamente heterossexual (essa é uma das análises mais fortes que virão esse ano, explico mais depois, em outro post, no futuro)/ milhões de coisas que hoje em dia amo em mim etc]. Estava difícil conviver comigo mesma, e eu fui forçada a aprender.
Só que, antes de aprender, eu decidi em algum lugar da minha cabecinha estranha que sair da zona de conforto não era a opção mais divertida, e preferi me enganar. Em vez de lidar comigo mesma, empurrei minha carência goela abaixo de outro, forçando um namoro que ambas as partes não queriam e ambas as partes tentaram se enganar de que poderia dar certo.
Não vou tratar aqui de heróis ou vilões. Sei que nessa época aprendi um pouco mais sobre o feminismo (embora fosse um "meu namorado me deixou ser feminista", ao menos no início), e aos poucos (bem aos poucos, e ainda tem sido, e será para sempre) aquilo foi fazendo algum sentido na minha cabeça. Anos depois, está sendo difícil encarar o quanto eu perdi por não ter conhecido o feminismo antes, mas ok, voltemos.
Hoje entendo que cometi um grande erro com meu segundo namoro, que foi exatamente esse de usá-lo como substituição para uma carência que mais tinha a ver com aprender a lidar comigo mesma do que com ter alguém do meu lado. Entendo que isso não foi certo, nem justo, e causou uma série de problemas para nós dois. Não que eu ache que sou a grande culpada do relacionamento e bláblá, até porque, como eu disse, não estamos atrás de heróis e vilões, mas eu acabei por enganar até a mim mesma. Eu queria amar, eu queria criar algo, e eu me dispus, em meio à minha baixa alto-estima, a fazer isso com qualquer um que estivesse minimamente disposto. Isso é tão errado com tudo que eu acredito, mas eu só acho isso porque precisei passar por tudo, e é isso aí. Vivendo e aprendendo.
Meu segundo relacionamento não durou muito, ou pelo menos de forma oficial, e quando terminamos pela primeira vez ele teve grande facilidade de lidar com o fato e seguir a vida, eu não tanto quanto gostaria. E ao mesmo tempo sim, porque, relendo, foi a época em que produzi textos até que bons, e gerei coisas que trago até hoje com muita força. E ter passado pelo primeiro término me ajudou com o segundo, eu já entendia que não era o fim do mundo e sim o início de milhões e milhões de possibilidades.
Só que eu desperdicei, e a zona de conforto parecia maior, então seguimos nos predendo em diversos termina-volta, que só geravam mais dor e insegurança.
Em meio à toda essa tristeza, foi nessa época (tarde, mas nunca tarde demais) que comecei a entender (e ainda tenho muito a aprender) que posicionamentos e falas nossas podem magoar outras pessoas por coisas que a gente nem registra porque muitas vezes nem vivemos. Passei a entender a política mais como micro e menos como macro e ver como eu e meu comportamento também éramos (somos) política.
Ao ficar definitivamente solteira, a minha vida mudou. Em vez de ficar chorando porque eu não poderia mais "ser" meus relacionamentos anteriores, decidi descobrir o que eu poderia ser. O ano em que isso aconteceu foi muito complicado, porque estava morando com minha mãe, trabalhando formalmente pouco, depois de duas faculdades não-concluídas, e o peso disso era complicado de lidar, mas também foi aí que super-desenvolvi malabares, tirinhas, Os Reinos e todas as coisas que eu verdadeiramente quero fazer na minha vida. O medo de ir em direção ao novo foi complicado, mas vendo o que construi (ainda pouco) desde então, percebo que foi uma das melhores escolhas que carreguei até então.
E é CLARO que eu não poderia aprender de primeira. Até aí estava tudo bem, eu estava tendo uma vida social animada, eu estava produzindo, eu estava melhorando dos meus sentimentos freiadores. E aí eu entrei em um relacionamento aberto com aquele namorado cujas coisas não davam bem no fechado. É claro que isso também não durou muito, mas tem o valor de ser citado porque também gerou coisas que carrego até hoje (e tenho trabalhado, eu ouvi um amém?).
No fim do ano de 2014, eu já sabia que viria para cá.
Não precisou me demorar muito sobre como minha vida mudou ao sair de Curitiba. Como sempre, eu sou outra Lua hoje, e os últimos dois anos parecem uns seis, ao menos. Ainda assim, vejo em mim diversas coisas mal resolvidas, várias oriundas de minha vida curitibana, várias que me perseguiram nesse ano que passou.
E me sinto bem pronta, na verdade. Considero confiança demais um perigo, mas não quero ser freiada pelo meu medo constante. Tenho guias fortes, se não confio em mim posso ao menos confiar neles, que isso já é confiar em mim também.
Não sei como concluir esse texto, porque estou cheia de informação da minha última década fervilhando na minha cabeça, mas posso dizer que, se minha ideia de vida é olhar para o passado e me sentir boba (porque isso significa que não estou parada, e sim avançando), eu fiz direitinho, e vou continuar fazendo.
Acho que foi legal ler tudo isso pra ver que, por mais que eu goste de pensar que sou uma inútil que sempre erra e erra e erra, eu aprendi bastante. Minha vida tem estado em uma dimensão que me atrai: eu, produzindo e com a cabecinha no lugar, com uma casa cheia de bichos e um companheiro que não é perfeito, mas tem o que eu sempre pedi em alguém que fosse ficar ao meu lado: cumplicidade, disposição para evoluirmos mentalmente e, por fim, não grila com a minha liberdade individual. E mais do que isso, tô rodeada de amigos, entre os novos e os velhos (Rodolfo mesmo tá aqui em casa hah), e tô disposta a continuar passando por quantos perrengues e problemas e obstáculos forem necessários para que eu me torne uma pessoa cada vez mais e mais próxima da pessoa que eu quero ser.
É bonzaço estar viva, encarnada ou não, legal é existir.
eu ainda estou aqui
vocês também, gente
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