domingo, 7 de abril de 2019

Se minha família fosse um doce

Hoje me peguei pensando sobre, "e se meus pais fossem um doce, qual seria?", um desses pensamentos sem lógica que passam pela minha mente com frequência. Me surpreendi, até, porque não costumo relacionar pessoas com comida, mas me dei conta de que respondi com mais facilidade do que julguei inicialmente que teria. Meu pai é o mais fácil: frutas refrescantes, abacaxi, kiwi, morango, algo meio tropical, como aquele sabor de pizza, californiana, que ele sempre pede (todos reclamam, mas no fim todos comem). Já minha mãe é diferente, conheço sua inclinação para o salgado, então ela não poderia ser um doce daqueles enjoativos, pelo contrário, tem um sabor marcante, refinado, porém exótico, algo como damasco com pimenta, um toque meio inesquecível, daqueles que não se ignora. 
Minhas irmãs, por ordem de chegada, a mais velha por parte de pai, um daqueles docinhos de beijinho com uma uva dentro, fruto de uma convivência agradável, mas com tempo para descobertas; a mais velha por parte de mãe, um doce sofisticado, daqueles que só se vê em festa de casamento de gente muito rica, que dá pena de comer e estragar a aparência; minha irmã mais nova com certeza é um daqueles doces modernos, coloridos, "culinária molecular, benhê", do tipo que ainda não sabe muito bem a que veio, mas veio. Meu irmão-acoplado, Felipe, é um doce daqueles que se ama ou odeia, como um azedinho ou um quebra-queixo, duro como a cabeça dele.
Meu companheiro, algo suave, uma espécie de flan de coco, daqueles que sempre dá vontade de comer mais e mais. Com cobertura, é lógico.
Não saberia definir meu doce, acredito não ter tanta confiança, gostaria de ser algo gostoso como chocolate amargo com toques de maracujá, mas, em prol de um desfecho minimamente plausível para esse pequeno texto-cardápio, aceito ser aquele doce iludido que se julga o doce mais doce entre os doces, o doce de batata-doce.


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