"Ela o viu na cafeteria e pensou se deveria entrar. Queria vê-lo, queria abraçá-lo, beijá-lo, queria passar a vida com ele. Mas não dava. Não dava para esquecer todos os erros do passado, muito menos as mentiras, e era melhor não insistirem em algo que faria com que se odiássem um dia.
Não ia entrar na cafeteria. Não conseguiria olhar para ele e dizer que toda a vida que planejaram estava desfeita para ela, e não conseguiria fingir que não o culpava por isso. Culpava, e muito.
Todas as vezes que ele tinha um problema ela era a primeira a saber, e a primeira a dizer "calma, Fê, vai ficar tudo bem. Vamos passar por isso". Quando a situação invertia ele chegava a ser frio, "você está fazendo tempestade em copo d'água, seja forte!".
Odiava que ele pensasse que ela não era forte. Se ele soubesse tudo que ela deixou por ele! Mas é claro que ele não sabia as coisas que havia feito, ela nunca contou. Nunca fez nada para se vangloriar depois, fez porque o amava.
Só que amou a pessoa errada.
- Annie?
É natural se perder em devaneios quando pensa na história dos dois. Para ela, o mundo estava invisivel, mas ele ainda conseguia vê-la, e saiu da cafeteria para ir ao seu encontro.
O rancor é um grande agente de atitude. Quando ele está em seu ápice só são necessários vinte segundos de coragem insana para fazer tudo que deva ser feito.
- Fê, já deu. - Ela disse, séria e inexpressiva. - Não vamos conseguir passar por essa barra. Não mais.
Ele a olhou entediado.
- Annie, pare de besteira. Já passamos por muita coisa, nós nos amamos, lembra? Eu sei que não estamos exatamente namorando, e que esses últimos meses foram dificeis, mas a gente consegue superar!
- Não-dá-mais. Me desculpe.
Ele olhou em seus olhos, esperando ver lágrimas, mas não viu nada. Ela sustentou o olhar firmemente, e então ele começou a ficar com medo. Parecia que dessa vez, dentre tantas outras, ela estava falando sério.
- Qual é o seu problema?
- Memória.
- Perda de memória?
- Presença dela.
E nada foi como antes."
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