Pensei num plano genial agora. O mundo tá acabando e todo mundo sabe que quando o mundo tá acabando os donos do planeta pegam suas pesquisas e suas naves e vão em busca daquele planeta X já descoberto que parece a Terra e poderia abrigar a vida, certo? Certo.
Ao mesmo tempo o mundo só tá acabando porque esses mesmos donos do mundo estão destruindo tudo com suas mineradoras e agrotóxicos e barragens e enfins. Não estamos perto do fim do Sol ou prestes a sofrer com meteoros gigantes, o mundo só está acabando porque eles estão aqui.
É um paradoxo e todo mundo sabe que paradoxos foram feitos para dar dor de cabeça, mas E SE a gente desse um jeito de cortar o ciclo, precisaríamos de alguns cientistas conspiracionistas e um ou dois indícios de perigo imediato (cadê aquele meteoro? Nibiru não, que Nibiru já tem conceito demais envolvido, precisamos de algo neutro), uns quatro bilionários para comparem a mídia (aquela vendida!) com alguns fatos interessantes de como o Planeta X é um local emergente e a ida para lá é questão de alcance social, todo vão querer ir, pelo menos todos que não conseguirem imaginar quão bela e pura seria uma vida no planeta Terra sem esse bando de almofadinhas, ahh, que vidão!
terça-feira, 23 de julho de 2019
segunda-feira, 22 de julho de 2019
provadores
- A pior coisa é um artista com medo. - Eu disse na frente do espelho, ele me fitou de volta.
- Por que diz isso?
- Veja bem, o artista sempre apresenta uma ideia, certo ou errado, bom ou mau, sempre tem algum conceito envolvido. Mas e o artista que não tem segurança de si? Ele vai criar, porque isso é inerente, mas nunca vai divulgar. Vai ter medo de mostrar o que pensou.
Meu espelho me fitou com um olhar engraçado.
- Como alguém pode ter medo da própria criação? - Perguntou e eu ri, sendo acompanhado pelo reflexo envergonhado.
- É fácil, na verdade. Estamos sempre nos destruindo e reconstruindo, é fácil olhar algo do passado e não se ver mais ali.
- O que é diferente de negar a própria arte.
- Não é tão diferente assim. Se eu ficar famoso por uma obra que na época fazia sentido mas hoje em dia está ultrapassada, bom, ficarei conhecido como ultrapassado.
O espelho soltou um muxoxo de descrença.
- Não acho que as pessoas pensem muito nisso.
- Mas é aí que está, o artista pensa, o artista gosta de refletir sobre aquilo que ninguém mais reflete. Só que quando ele gera essa reflexão, bom, as pessoas que nunca tinham pensado sobre passam a discordar dele.
- Mas o papel não seria exatamente gerar a reflexão, e não a ideia pronta?
Andei pelo banheiro até encontrar o barbeador, só então respondi.
- Não, acho que isso é ilusório. Todo mundo tem uma ideia pronta, a gente pode até mudar, mas imparcialidade é uma mentira.
- Isso tudo parece papo de maluco.
- De maluco não, meu amigo. De artista.
- Por que diz isso?
- Veja bem, o artista sempre apresenta uma ideia, certo ou errado, bom ou mau, sempre tem algum conceito envolvido. Mas e o artista que não tem segurança de si? Ele vai criar, porque isso é inerente, mas nunca vai divulgar. Vai ter medo de mostrar o que pensou.
Meu espelho me fitou com um olhar engraçado.
- Como alguém pode ter medo da própria criação? - Perguntou e eu ri, sendo acompanhado pelo reflexo envergonhado.
- É fácil, na verdade. Estamos sempre nos destruindo e reconstruindo, é fácil olhar algo do passado e não se ver mais ali.
- O que é diferente de negar a própria arte.
- Não é tão diferente assim. Se eu ficar famoso por uma obra que na época fazia sentido mas hoje em dia está ultrapassada, bom, ficarei conhecido como ultrapassado.
O espelho soltou um muxoxo de descrença.
- Não acho que as pessoas pensem muito nisso.
- Mas é aí que está, o artista pensa, o artista gosta de refletir sobre aquilo que ninguém mais reflete. Só que quando ele gera essa reflexão, bom, as pessoas que nunca tinham pensado sobre passam a discordar dele.
- Mas o papel não seria exatamente gerar a reflexão, e não a ideia pronta?
Andei pelo banheiro até encontrar o barbeador, só então respondi.
- Não, acho que isso é ilusório. Todo mundo tem uma ideia pronta, a gente pode até mudar, mas imparcialidade é uma mentira.
- Isso tudo parece papo de maluco.
- De maluco não, meu amigo. De artista.
terça-feira, 9 de julho de 2019
Aviso não muito importante
Eu não reviso meus textos aqui. Não é um blog profissional, mesmo que eu queira trabalhar profissionalmente com escrita. Aqui é pessoal, desabafo, elucubração, tenho mais de dez anos de blog, minha opinião muda rapidin, graças aos deuses, e eu não sou ~digital influencer para que minha opinião tenha algum significado nesse mundo, enfim. Sem métrica, sem regra, só vai.
Seguimos.
Seguimos.
Narrativas
A verdade pode até ser uma só (isso não é uma afirmação), mas são muitos os pontos de vista e, hoje e sempre, isso que define quem vai segurar a faca e o queijo.
A humanidade já passou por muitos momentos e já acreditou em muitas coisas, algumas dúvidas que pareciam superadas inclusive voltando à moda (alô terraplanismo), e eu cada vez mais penso que o que controla tudo é a narrativa, veja bem, um dia acreditamos que o rei era escolhido por Deus para ser rei, ou que mulheres eram propriedades de seus pais e maridos, ou em papos lixos de supremacia ariana, enfim, a lista de absurdos já defendidos pela humanidade e encarado como "opiniões comuns" é imensa, surpreendentemente até hoje, quando grande parte de nós já tem acesso à internet e, com ela, à maioria dos livros existentes no mundo.
Nós avançamos muito no decorrer da nossa história, ao menos em teoria, e mesmo assim estávamos muito longe do ideal, mas existia um futuro a ser vislumbrado, já entendíamos que as pessoas são diferentes entre si mas devem ter as mesmas oportunidades e que, se isso ainda não acontece, é algo a ser mudado e não elogiado.
A internet mesmo, essa linda faca de dois gumes, propiciou que muitas pessoas tivessem acesso a histórias e contextos de vida muito diferentes da própria bolha e, mesmo que nem toda a população tenha acesso, o crescimento da internet mudou a televisão, mudou o rádio, mudou o cotidiano brasileiro (provavelmente mundial) e, principalmente, jogou na roda debates que por muito tempo tentamos evitar, debates desconfortáveis, sim, mas necessários e atrasadíssimos.
Só que um fenômeno antigo também se apropriou das redes, a certeza da alienação. E então as teorias e opiniões começaram a ser mais importantes do que os fatos, novamente a narrativa, certa ou errada, se fazendo valer. Se por trás da ideia de progresso está a destruição do planeta, por que não focar apenas naquilo que queremos focar? Existe uma tendência crescente em ignorar verdade e mentira e trocar pelo "concordo" ou "não concordo". E por isso pessoas seguem defendendo suas opiniões bizarras, defendendo seus heróis mesmo que os mesmos entupam a comida da população com veneno e etc.
Se eu pudesse enfiar alguma ideia na cabeça do mundo todo seria essa: não existem heróis e não existem vilões. Mas existe a narrativa e, com ela, você consegue fazer as pessoas viverem em um estado de medo e alerta que torna fácil o controle. Nós só queremos ser dopados, ninguém aguenta mais receber a tonelada de informação diária, estamos sendo soterrados porque, assim, não reagimos, e é mais fácil lidar com isso quando tem um suposto herói para nos salvar de nós mesmos. Terceirizar o trabalho de ter uma sociedade justa, algo assim.
E aí a gente inventa um papo meritocrático, algo como "as pessoas são pobres porque não se esforçaram o suficiente", e fica fácil tirar o nosso da reta.
No último episódio de Brasil 2019, nosso vergonhoso presidente soltando uma daquelas cortinas de fumaça e defendendo trabalho infantil, mais uma narrativa que eu pensava estar consolidada, "lugar de criança é na escola", e pelo visto, não, tem muita gente, os famosos "cidadãos de bem", se prontificando em defender a narrativa de que criança pode e deve perder a infância trabalhando. Felizmente esse não é um projeto de verdade, como prometer empregos para crianças em um país onde parte gritante da população está desempregada? Ainda assim, é um absurdo que a fala tenha sido defendida, é desesperador ver pessoas que eu considerava boas e sensatas (já nem sei em quê me baseio) defendendo que o filho dos outros deixe de brincar e estudar para garantir a sobrevivência da família que, para começar, nem deveria estar passando dificuldade se vivêssemos em um mundo justo.
E a narrativa vigente é essa: se não está conosco está contra nós, é inimigo e deve ser combatido. É só observar a atual campanha para tirar o técnico da seleção, Tite, não pelo seu desempenho como técnico, mas por sua posição política que ele, pelo que entendi, nem levou ao campo. Eles defendem que isso aconteça mas acham um absurdo serem chamados de fascistas, mesmo isso deixará de ser um problema, com o tempo, o termo fascista perderá o significado e vai se tornar o mesmo que anti-comunista, porque segundo a narrativa o comunismo foi o que vivemos nos últimos tempos (o lucro dos bancos deve ter sido alucinação coletiva ou algo assim) e deve ser combativo porque o PT estragou o país e aquele papinho todo e etc.
São tempos sombrios e vem aí mais um ciclo de vários anos para resolver essa bagunça toda. Pena que a gente destrói o planeta cada dia mais e se bobear nem temos todo esse tempo. Vai depender da narrativa. No momento aquecimento global nem existe mesmo...
A humanidade já passou por muitos momentos e já acreditou em muitas coisas, algumas dúvidas que pareciam superadas inclusive voltando à moda (alô terraplanismo), e eu cada vez mais penso que o que controla tudo é a narrativa, veja bem, um dia acreditamos que o rei era escolhido por Deus para ser rei, ou que mulheres eram propriedades de seus pais e maridos, ou em papos lixos de supremacia ariana, enfim, a lista de absurdos já defendidos pela humanidade e encarado como "opiniões comuns" é imensa, surpreendentemente até hoje, quando grande parte de nós já tem acesso à internet e, com ela, à maioria dos livros existentes no mundo.
Nós avançamos muito no decorrer da nossa história, ao menos em teoria, e mesmo assim estávamos muito longe do ideal, mas existia um futuro a ser vislumbrado, já entendíamos que as pessoas são diferentes entre si mas devem ter as mesmas oportunidades e que, se isso ainda não acontece, é algo a ser mudado e não elogiado.
A internet mesmo, essa linda faca de dois gumes, propiciou que muitas pessoas tivessem acesso a histórias e contextos de vida muito diferentes da própria bolha e, mesmo que nem toda a população tenha acesso, o crescimento da internet mudou a televisão, mudou o rádio, mudou o cotidiano brasileiro (provavelmente mundial) e, principalmente, jogou na roda debates que por muito tempo tentamos evitar, debates desconfortáveis, sim, mas necessários e atrasadíssimos.
Só que um fenômeno antigo também se apropriou das redes, a certeza da alienação. E então as teorias e opiniões começaram a ser mais importantes do que os fatos, novamente a narrativa, certa ou errada, se fazendo valer. Se por trás da ideia de progresso está a destruição do planeta, por que não focar apenas naquilo que queremos focar? Existe uma tendência crescente em ignorar verdade e mentira e trocar pelo "concordo" ou "não concordo". E por isso pessoas seguem defendendo suas opiniões bizarras, defendendo seus heróis mesmo que os mesmos entupam a comida da população com veneno e etc.
Se eu pudesse enfiar alguma ideia na cabeça do mundo todo seria essa: não existem heróis e não existem vilões. Mas existe a narrativa e, com ela, você consegue fazer as pessoas viverem em um estado de medo e alerta que torna fácil o controle. Nós só queremos ser dopados, ninguém aguenta mais receber a tonelada de informação diária, estamos sendo soterrados porque, assim, não reagimos, e é mais fácil lidar com isso quando tem um suposto herói para nos salvar de nós mesmos. Terceirizar o trabalho de ter uma sociedade justa, algo assim.
E aí a gente inventa um papo meritocrático, algo como "as pessoas são pobres porque não se esforçaram o suficiente", e fica fácil tirar o nosso da reta.
No último episódio de Brasil 2019, nosso vergonhoso presidente soltando uma daquelas cortinas de fumaça e defendendo trabalho infantil, mais uma narrativa que eu pensava estar consolidada, "lugar de criança é na escola", e pelo visto, não, tem muita gente, os famosos "cidadãos de bem", se prontificando em defender a narrativa de que criança pode e deve perder a infância trabalhando. Felizmente esse não é um projeto de verdade, como prometer empregos para crianças em um país onde parte gritante da população está desempregada? Ainda assim, é um absurdo que a fala tenha sido defendida, é desesperador ver pessoas que eu considerava boas e sensatas (já nem sei em quê me baseio) defendendo que o filho dos outros deixe de brincar e estudar para garantir a sobrevivência da família que, para começar, nem deveria estar passando dificuldade se vivêssemos em um mundo justo.
E a narrativa vigente é essa: se não está conosco está contra nós, é inimigo e deve ser combatido. É só observar a atual campanha para tirar o técnico da seleção, Tite, não pelo seu desempenho como técnico, mas por sua posição política que ele, pelo que entendi, nem levou ao campo. Eles defendem que isso aconteça mas acham um absurdo serem chamados de fascistas, mesmo isso deixará de ser um problema, com o tempo, o termo fascista perderá o significado e vai se tornar o mesmo que anti-comunista, porque segundo a narrativa o comunismo foi o que vivemos nos últimos tempos (o lucro dos bancos deve ter sido alucinação coletiva ou algo assim) e deve ser combativo porque o PT estragou o país e aquele papinho todo e etc.
São tempos sombrios e vem aí mais um ciclo de vários anos para resolver essa bagunça toda. Pena que a gente destrói o planeta cada dia mais e se bobear nem temos todo esse tempo. Vai depender da narrativa. No momento aquecimento global nem existe mesmo...
terça-feira, 2 de julho de 2019
Espiritualidade é mais do que falar bonito
Me cansa um pouco essa tendência de alguns nichos entusiastas de um estudo espiritual, aquela mania de tentar se transformar em um "ser de luz", o que já me remete a pitadas de cristianismo (nada contra), porque a ideia de "ser de luz" seria alguém bondoso, com compaixão, que brilha, ilumina o ambiente. Nada mau, não é? Mas o que é isso senão a imagem construída de Jesus, um homem tão perfeito que não podia nem ter esposa? E nessa esquecem de coisas simples, como não julgar inferior alguém que não está na mesma busca, não criar uma hierarquia espiritual ("nós, que estamos mais evoluídos, temos que.........") ou, sei lá - não acendam as tochas ainda - amar os próprios defeitos? Se aceitar, como humanos? Talvez entender que uma vida comum (com esposa e tudo!) não torne ninguém menos ~evoluído?
Eu amo a sombra. Quando tem sombra de noite é porque a Lua tá cheia! Na sombra nos conectamos com nosso verdadeiro eu, o que gostamos e o que gostaríamos de esconder, na sombra está aquilo que é sutil, secreto, palpável, me lembra até uma frase muito bonita do meu irmão (Felipe Bello, autoria aqui haha): "De dia o trovão assusta, de noite ele ilumina". O que quero dizer nisso? Que tudo tem uma função, mesmo aquilo que não identificamos de começo, e isso também diz respeito aos nossos sentimentos, inclusive os que muitos tentam abafar por não considerarem "ser de luz". O medo é horrível, mas pode salvar minha vida. A raiva é perigosa, mas impulsiona. A tristeza é dolorida, mas também ensina. Não tem porque odiar essas nuances ou querer tirá-las de mim porque são sentimentos "negativos".
Outra coisa que eu noto muito por aí. Jogo runas, é um dos meus oráculos preferidos, me sinto muito integrada com meus guias quando sacudo as pedrinhas (feitas por mim) na sacola. Também jogo profissionalmente, num valor ínfimo (costumo cobrar vinte reais), e já fui criticada por isso mais de uma vez. Dizem que eu deveria cobrar mais para valorizar o produto porque, se eu for barateira, vão achar que não sei o que estou fazendo. Ora, vejam bem, não estou aqui para convencer ninguém, não preciso encarecer meu trabalho para buscar clientes porque eu não preciso de clientes, não é minha intenção e, se uma pessoa precisa pagar caro para valorizar o que eu faço, talvez não seja ela quem eu precise atingir. Nada contra que as pessoas cobrem o preço que quiserem nas coisas que fazem, isso é um direito de quem dispõe a mão de obra, mas não é isso que me trará credibilidade.
E aí eu paro e olho para os lados, o que me trará credibilidade no meio, se é que eu preciso disso? Então observo e reconheço alguns padrões dentre a maioria (sem generalizações aqui) das pessoas que falam nesses assuntos: o tom de voz sereno, as frases de superação, a insistência em olhar para o lado bom da vida (e só para ele ou estará atraindo pensamentos negativos). Gosto de pensar que as pessoas são assim porque estão confortáveis consigo mesmas, se sentem realmente serenas e prontas para o futuro, mas isso passa uma imagem de que pessoas que estão envolvidas no auto-conhecimento e espiritualidades em geral são bem-resolvidas, felizes para caramba e nada derruba elas, e isso é uma inverdade. Todos nós somos passíveis de encontrarmos a tristeza e, principalmente, a loucura. Estamos num mundo onde todo mundo flerta com a loucura constantemente, euzinha, numa escolha pessoal, prefiro abraçar minha loucura do que fingir que ela não existe (não que eu tenha muita escolha). Acho que isso é mais realista com o mundo em que vivo, onde não somos iguais, mesmo que cada um de nós tenha uma existência que merecia mais, nós não somos iguais e não é esse o problema, o problema é que, dependendo de quem somos, o mundo se relaciona diferente conosco, nós nunca podemos esquecer isso ou a nossa espiritualidade tá girando só em torno do nosso umbigo, e isso é prejudicial, passa para as pessoas ideias irreais
Tive minha época de tentar só ser feliz. Ter paciência, sempre buscar ajudar os outros, fazer de tudo para que gostem de mim e achava que isso era me lapidar espiritualmente. Quando a vida apertou, quebrei, lembrei que isso era uma farsa e, pior, tinha gente que contava comigo para manter a máscara no lugar. Essa é uma das minhas histórias de vida, não necessariamente é a de todo mundo que se encaixa no que eu falei, sei disso mas, curiosamente, também é essa máscara que muitos sentem falta para confiarem em mim com as runas. "Como posso jogar runas com ela se ela não é serena, com tom de voz complacente e aspecto bondoso?" Pois bem, não sou e não serei, assim como meus guias não são seres de luz e nem por isso são menos sábios e admiráveis. Sou cinza, bem cinzinha, não me acho pior e nem melhor do que ninguém, não ataco mas não dou a outra face, não sou cruel mas conheço meu lado monstro e, felizmente, sei que tenho muito, muito, muito a aprender. Espiritualmente? Demais, mas, principalmente, sobre o mundo físico e sua sociedade desigual. Com tanta injustiça nesse mundo, melhor deixar minha parte "serena" para o pós-morte.
O que eu quero com tudo isso é lembrar de que muito mais importante do que "manter os pensamentos positivos para, enfim, encontrar o sucesso" é lembrar que o sucesso é muito mais fácil para uns do que para outros, de acordo com classe social, etnia, gênero, sexualidade etc, lembrar que mais importante do que conseguir um sucesso (geralmente atrelado com dinheiro) é fazer algo de bom com isso, algo que facilite o caminho para os que vierem depois, é usar o sucesso para diminuir um pouco as injustiças do mundo, sabendo que nós também não somos super-heróis, não dá para, individualmente, vencer um sistema estrutural, mas dá para não ignorá-lo, não fingir que inexiste porque "eu só lido com o astral".
No âmbito pessoal cada um lida com o que quiser, não tô aqui para decidir por ninguém, só que se você se coloca em uma posição de "autoridade espiritual" (francamente, isso é ridículo), é contraditório que não fale de direitos humanos, de direito à moradia, alimentação saudável, dignidade de vida, isso não é política, isso é espiritualidade! É reconhecer que toda pessoa no planeta deveria ter o básico para uma vida digna, é reconhecer que isso não acontece. Podemos falar disso com o olhar sereno e o tom de voz complacente, se vocês preferem, mas que não deixe de ser falado, que essas questões não percam sua importância para dar lugar ao "sua vida está ruim porque você não está mentalizando direito". Aproveitem essa credibilidade aí, meu povo!
Eu amo a sombra. Quando tem sombra de noite é porque a Lua tá cheia! Na sombra nos conectamos com nosso verdadeiro eu, o que gostamos e o que gostaríamos de esconder, na sombra está aquilo que é sutil, secreto, palpável, me lembra até uma frase muito bonita do meu irmão (Felipe Bello, autoria aqui haha): "De dia o trovão assusta, de noite ele ilumina". O que quero dizer nisso? Que tudo tem uma função, mesmo aquilo que não identificamos de começo, e isso também diz respeito aos nossos sentimentos, inclusive os que muitos tentam abafar por não considerarem "ser de luz". O medo é horrível, mas pode salvar minha vida. A raiva é perigosa, mas impulsiona. A tristeza é dolorida, mas também ensina. Não tem porque odiar essas nuances ou querer tirá-las de mim porque são sentimentos "negativos".
Outra coisa que eu noto muito por aí. Jogo runas, é um dos meus oráculos preferidos, me sinto muito integrada com meus guias quando sacudo as pedrinhas (feitas por mim) na sacola. Também jogo profissionalmente, num valor ínfimo (costumo cobrar vinte reais), e já fui criticada por isso mais de uma vez. Dizem que eu deveria cobrar mais para valorizar o produto porque, se eu for barateira, vão achar que não sei o que estou fazendo. Ora, vejam bem, não estou aqui para convencer ninguém, não preciso encarecer meu trabalho para buscar clientes porque eu não preciso de clientes, não é minha intenção e, se uma pessoa precisa pagar caro para valorizar o que eu faço, talvez não seja ela quem eu precise atingir. Nada contra que as pessoas cobrem o preço que quiserem nas coisas que fazem, isso é um direito de quem dispõe a mão de obra, mas não é isso que me trará credibilidade.
E aí eu paro e olho para os lados, o que me trará credibilidade no meio, se é que eu preciso disso? Então observo e reconheço alguns padrões dentre a maioria (sem generalizações aqui) das pessoas que falam nesses assuntos: o tom de voz sereno, as frases de superação, a insistência em olhar para o lado bom da vida (e só para ele ou estará atraindo pensamentos negativos). Gosto de pensar que as pessoas são assim porque estão confortáveis consigo mesmas, se sentem realmente serenas e prontas para o futuro, mas isso passa uma imagem de que pessoas que estão envolvidas no auto-conhecimento e espiritualidades em geral são bem-resolvidas, felizes para caramba e nada derruba elas, e isso é uma inverdade. Todos nós somos passíveis de encontrarmos a tristeza e, principalmente, a loucura. Estamos num mundo onde todo mundo flerta com a loucura constantemente, euzinha, numa escolha pessoal, prefiro abraçar minha loucura do que fingir que ela não existe (não que eu tenha muita escolha). Acho que isso é mais realista com o mundo em que vivo, onde não somos iguais, mesmo que cada um de nós tenha uma existência que merecia mais, nós não somos iguais e não é esse o problema, o problema é que, dependendo de quem somos, o mundo se relaciona diferente conosco, nós nunca podemos esquecer isso ou a nossa espiritualidade tá girando só em torno do nosso umbigo, e isso é prejudicial, passa para as pessoas ideias irreais
Tive minha época de tentar só ser feliz. Ter paciência, sempre buscar ajudar os outros, fazer de tudo para que gostem de mim e achava que isso era me lapidar espiritualmente. Quando a vida apertou, quebrei, lembrei que isso era uma farsa e, pior, tinha gente que contava comigo para manter a máscara no lugar. Essa é uma das minhas histórias de vida, não necessariamente é a de todo mundo que se encaixa no que eu falei, sei disso mas, curiosamente, também é essa máscara que muitos sentem falta para confiarem em mim com as runas. "Como posso jogar runas com ela se ela não é serena, com tom de voz complacente e aspecto bondoso?" Pois bem, não sou e não serei, assim como meus guias não são seres de luz e nem por isso são menos sábios e admiráveis. Sou cinza, bem cinzinha, não me acho pior e nem melhor do que ninguém, não ataco mas não dou a outra face, não sou cruel mas conheço meu lado monstro e, felizmente, sei que tenho muito, muito, muito a aprender. Espiritualmente? Demais, mas, principalmente, sobre o mundo físico e sua sociedade desigual. Com tanta injustiça nesse mundo, melhor deixar minha parte "serena" para o pós-morte.
O que eu quero com tudo isso é lembrar de que muito mais importante do que "manter os pensamentos positivos para, enfim, encontrar o sucesso" é lembrar que o sucesso é muito mais fácil para uns do que para outros, de acordo com classe social, etnia, gênero, sexualidade etc, lembrar que mais importante do que conseguir um sucesso (geralmente atrelado com dinheiro) é fazer algo de bom com isso, algo que facilite o caminho para os que vierem depois, é usar o sucesso para diminuir um pouco as injustiças do mundo, sabendo que nós também não somos super-heróis, não dá para, individualmente, vencer um sistema estrutural, mas dá para não ignorá-lo, não fingir que inexiste porque "eu só lido com o astral".
No âmbito pessoal cada um lida com o que quiser, não tô aqui para decidir por ninguém, só que se você se coloca em uma posição de "autoridade espiritual" (francamente, isso é ridículo), é contraditório que não fale de direitos humanos, de direito à moradia, alimentação saudável, dignidade de vida, isso não é política, isso é espiritualidade! É reconhecer que toda pessoa no planeta deveria ter o básico para uma vida digna, é reconhecer que isso não acontece. Podemos falar disso com o olhar sereno e o tom de voz complacente, se vocês preferem, mas que não deixe de ser falado, que essas questões não percam sua importância para dar lugar ao "sua vida está ruim porque você não está mentalizando direito". Aproveitem essa credibilidade aí, meu povo!
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