sexta-feira, 22 de março de 2013

A fuga

Por que não fugimos juntos? 
Podemos pegar uma estrada qualquer, sem nada no bolso, e apenas ir.
Se esperarmos o momento certo perderemos a vida em vão, ele nunca chega.
Eu gostaria muito de andar descalça pelo asfalto quente da estrada, mesmo com as bolhas que provavelmente surgirão em seguida.
E então nós levamos apenas uma trouxa de roupa, um violão, alicate e arame. Você pode tocar enquanto eu canto, e assim temos a chance de conseguir alguns trocados. Ou eu posso fazer meus arames enquanto você os vende, também é uma possibilidade. 
Existe a chance de trombarmos com um circo, na metade do caminho, e com isto mudar toda nossa rota, por que não? Você vê problema nisso?
Revezaremos as mochilas nos nossos próprios ombros, procurando uma forma de carregá-las e ainda assim poder segurar as mãos um do outro. E o sol vai estar quente e vamos ficar suados; e a chuva vai vir, e ficaremos gripados; mas não tem problema, o corpo não é nada perto da imensidão da alma.
Vão nos chamar de loucos, vagabundos, irresponsáveis; vão nos julgar com unhas e dentes, na frustração que corre por suas veias, de que possuem uma vida cinza em um mundo tão colorido; será perigoso, arriscado, e perderemos tudo que julgávamos ter.

Mas, no fundo, saberemos que, antes de tudo isso, nós não tínhamos nada.

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