Eu posso até não ver, mas o dia vai chegar. Posso não ter mais carne no corpo ou batimentos no coração, posso ter perdido a esperança e abandonado esse mundo, não sei do futuro, só sei que o dia virá. O dia da virada, de quando olharemos para esse momento e vamos sentir vergonha, alguns do pouco que fizeram, outros do quanto se perderam, outros sentiram vergonha de quantos deixaram para trás. Nem todos devem sentir, ao menos espero que não, ainda existe gente sensata por aqui, um dia, eu espero, eu torço e, mais do que isso, eu sei, um dia essa sensatez será a regra.
domingo, 15 de novembro de 2020
domingo, 31 de maio de 2020
parece um texto político, mas é só uma auto análise ansiosa
vamos todos morrer. é só um fato, mesmo que eu nem acredite que a consciência acabe com o fim do corpo, temos um corpo, e no fim ele acaba.
o uso desse corpo durante a vida provavelmente é objeto de estudo de milhões de biólogos, filósofos, sociólogos e etcs por aí, nem vou me aprofundar nisso, até porque isso é uma reflexão despretensiosa, não um projeto de tese, mas o ponto que quero chegar é: a morte é certa, estamos no meio de uma pandemia, estamos em uma crise política bizarríssima, quarentenados, lidando com os próprios monstros e, mais importante do que tudo isso, estamos vivos. Nossa morte é certa.
esse não é um texto de desistência. na verdade, esse pensamento, no auge da minha ansiedade, me deixa tranquila. Minha morte é certa, então todos meus temores são infundados. Qual uso quero dar para meu corpo nessa experiência?
eu não gostaria de morrer jovem, não gostaria de ser vítima de um vírus como esse e me dói ver pessoas morrendo única e puramente pela falta de políticas públicas, a gente não escolhe a morte, mas não precisávamos banalizá-la.
e, pela gravidade dessa constante banalização, não só em relação ao coronavírus, mas também nas constantes mortes decorrentes do forte racismo no país, temos vários grupos arriscando a própria integridade, o próprio corpo, no justo argumento de que ficar em casa não é mais o suficiente para ficar vivo.
volto para mim, porque, como já disse, isso é só uma autoanálise.
O contraste tão forte entre meu eu-adolescente, quando eu não tinha fobia social, agorafobia e um constante medo de morrer jovem (sem meus objetivos cumpridos, tendo por "objetivos" uma ingênua e nem um pouco megalomaníaca ideia de mudar o mundo); e meu eu de agora, limitado, ciente das próprias hipocrisias e contradições, mais madura, sim, mas mais medrosa também, e com medo de quê?
sei lá, deixo essa pra outro texto, sou fã de coisas inacabadas mesm
o uso desse corpo durante a vida provavelmente é objeto de estudo de milhões de biólogos, filósofos, sociólogos e etcs por aí, nem vou me aprofundar nisso, até porque isso é uma reflexão despretensiosa, não um projeto de tese, mas o ponto que quero chegar é: a morte é certa, estamos no meio de uma pandemia, estamos em uma crise política bizarríssima, quarentenados, lidando com os próprios monstros e, mais importante do que tudo isso, estamos vivos. Nossa morte é certa.
esse não é um texto de desistência. na verdade, esse pensamento, no auge da minha ansiedade, me deixa tranquila. Minha morte é certa, então todos meus temores são infundados. Qual uso quero dar para meu corpo nessa experiência?
eu não gostaria de morrer jovem, não gostaria de ser vítima de um vírus como esse e me dói ver pessoas morrendo única e puramente pela falta de políticas públicas, a gente não escolhe a morte, mas não precisávamos banalizá-la.
e, pela gravidade dessa constante banalização, não só em relação ao coronavírus, mas também nas constantes mortes decorrentes do forte racismo no país, temos vários grupos arriscando a própria integridade, o próprio corpo, no justo argumento de que ficar em casa não é mais o suficiente para ficar vivo.
volto para mim, porque, como já disse, isso é só uma autoanálise.
O contraste tão forte entre meu eu-adolescente, quando eu não tinha fobia social, agorafobia e um constante medo de morrer jovem (sem meus objetivos cumpridos, tendo por "objetivos" uma ingênua e nem um pouco megalomaníaca ideia de mudar o mundo); e meu eu de agora, limitado, ciente das próprias hipocrisias e contradições, mais madura, sim, mas mais medrosa também, e com medo de quê?
sei lá, deixo essa pra outro texto, sou fã de coisas inacabadas mesm
domingo, 12 de abril de 2020
Cartas
Aos meus mortos: Sou grata. Agradeço cada momento que sussurraram (ou gritaram) as respostas nos meus ouvidos, mesmo quando jurei que estava pronta para recebê-las e, surpresa!, não estava. Agradeço pela confiança eterna, pela proteção inexplicável, aquela sorte que tive por toda minha vida de estar em lugares perigosos, situações perigosas, e sair com minha integridade física inabalável. A mente, nem tanto, mas essa parte era além de vocês e, ainda assim, conseguiram me ajudar, vocês são impressionantes.
Agradeço o cafuné quando, bem novinha, chorava com a cabeça enfiada no travesseiro, hoje eu nem lembro pelo quê, só sei que doía e eu me sentia sozinha, mas me mostraram que eu não estava.
Também lembro com carinho daquele dia, naquele lugar lindo, onde todos viramos flor, inseto, grama, mar, tudo, ali eu consegui sentir algo que só raciocinava: estamos todos conectados.
Quando um homem apareceu na frente da minha casa e vocês me avisaram que ele estava armado, e contornamos a situação exatamente como faríamos com dois cachorros querendo brigar. Ou nas outras duas vezes em que coisas parecidas aconteceram e eu temi, mas vocês me ajudaram. Eu sei.
Não faltam situações. Não são coisas pontuais, é dia a dia, desde sempre. Desde o vômito e desmaio na minha primeira comunhão (não completa) até o primeiro ritual com uns sete anos, ou a situação que me tornou uma criança de dez anos com insônia e até hoje eu não entendi, mas vocês sempre estiveram por mim, mesmo quando não mereci, mesmo quando vocês me avisaram e eu, teimosa, ignorei as consequências dos meus atos, ainda assim não me abandonaram.
Mesmo com um monte de gente, sempre me senti sozinha. Mesmo sozinha, sempre me senti com vocês. Obrigada.
Aos meus vivos: Se eu não morrer pelo coronavírus (nunca sabemos) essa carta ainda vem.
Agradeço o cafuné quando, bem novinha, chorava com a cabeça enfiada no travesseiro, hoje eu nem lembro pelo quê, só sei que doía e eu me sentia sozinha, mas me mostraram que eu não estava.
Também lembro com carinho daquele dia, naquele lugar lindo, onde todos viramos flor, inseto, grama, mar, tudo, ali eu consegui sentir algo que só raciocinava: estamos todos conectados.
Quando um homem apareceu na frente da minha casa e vocês me avisaram que ele estava armado, e contornamos a situação exatamente como faríamos com dois cachorros querendo brigar. Ou nas outras duas vezes em que coisas parecidas aconteceram e eu temi, mas vocês me ajudaram. Eu sei.
Não faltam situações. Não são coisas pontuais, é dia a dia, desde sempre. Desde o vômito e desmaio na minha primeira comunhão (não completa) até o primeiro ritual com uns sete anos, ou a situação que me tornou uma criança de dez anos com insônia e até hoje eu não entendi, mas vocês sempre estiveram por mim, mesmo quando não mereci, mesmo quando vocês me avisaram e eu, teimosa, ignorei as consequências dos meus atos, ainda assim não me abandonaram.
Mesmo com um monte de gente, sempre me senti sozinha. Mesmo sozinha, sempre me senti com vocês. Obrigada.
Aos meus vivos: Se eu não morrer pelo coronavírus (nunca sabemos) essa carta ainda vem.
domingo, 22 de março de 2020
Narcisa
Uma vida de extroversão e intensidade, medo sempre presente, mas nunca paralisante. Os problemas mudaram e a complexidade deles também, dizem que é natural, mas só possuía o próprio ponto de vista como referência, mesmo que fosse atrás de vislumbres alheios, mas a verdade era imutável: o seu universo era tudo que tinha, e cada um tinha um só seu. Confuso, os limites são sempre flutuantes.
Então olha para dentro. Entender o mundo é um conceito muito subjetivo, mas pode se entender no mundo. Aí se pergunta "consigo?" e a resposta vem, com a própria voz, "não. Por enquanto não. Ou talvez nem fodendo, para sempre". Nunca iria entender o mundo, não devia, era um ponto de vista único e criaria o mundo que busca.
A voz novamente "consigo?". "não. Por enquanto não. Ou talvez nem fodendo, para sempre."
Então veio a fobia social. Se não consegue entender o mundo e nem o seu papel nele, do que valia tudo aquilo?
Essa resposta ainda não chegou, mas se assumiu como criadora. Se tudo que tem é a chance de inventar mundos mais fáceis, entra na própria mente, em um mundo estabelecido por si mesma, que seja, foi uma vida de extroversão e intensidade e, ao lembrar do passado, também lembra que recebia mais respostas quando não as buscava tanto, por estar viva, se sentir viva. Jogou o universo para o próprio umbigo e aceitou a singular perspectiva, limitada, mas bem intencionada. Defeituosa, mas honesta. Sempre com algum toquezinho brega de auto-ajuda e auto-piedade, faz parte, não quer ter mais vergonha de ser o personagem que é, acha que todos somos (será?).
E se perde quantas vezes for necessário, desde que não desista está tudo certo, se tem uma coisa que aprendeu nos últimos tempos é que todos nós estamos conectados e sempre existe o dia de amanhã (senão aqui, em outro lugar).
Então olha para dentro. Entender o mundo é um conceito muito subjetivo, mas pode se entender no mundo. Aí se pergunta "consigo?" e a resposta vem, com a própria voz, "não. Por enquanto não. Ou talvez nem fodendo, para sempre". Nunca iria entender o mundo, não devia, era um ponto de vista único e criaria o mundo que busca.
A voz novamente "consigo?". "não. Por enquanto não. Ou talvez nem fodendo, para sempre."
Então veio a fobia social. Se não consegue entender o mundo e nem o seu papel nele, do que valia tudo aquilo?
Essa resposta ainda não chegou, mas se assumiu como criadora. Se tudo que tem é a chance de inventar mundos mais fáceis, entra na própria mente, em um mundo estabelecido por si mesma, que seja, foi uma vida de extroversão e intensidade e, ao lembrar do passado, também lembra que recebia mais respostas quando não as buscava tanto, por estar viva, se sentir viva. Jogou o universo para o próprio umbigo e aceitou a singular perspectiva, limitada, mas bem intencionada. Defeituosa, mas honesta. Sempre com algum toquezinho brega de auto-ajuda e auto-piedade, faz parte, não quer ter mais vergonha de ser o personagem que é, acha que todos somos (será?).
E se perde quantas vezes for necessário, desde que não desista está tudo certo, se tem uma coisa que aprendeu nos últimos tempos é que todos nós estamos conectados e sempre existe o dia de amanhã (senão aqui, em outro lugar).
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sexta-feira, 7 de fevereiro de 2020
Será?
A vida vai boa. Digo, é impressionante, porque o país está implodindo e o mundo está explodindo mas, sem mentiras aqui, minha vida vai bem. Tenho casa, teto, comida, bichos alucinados e um companheiro que me faz rir o dia inteiro, estou produzindo, estou fazendo minhas tirinhas e estou aqui, tentando me expressar sem medo de exposições, tentando colocar na escrita um monte das besteiras que penso sem sentir que serei julgada por cada palavra, sigo, vou arriscar, porque eu preciso arriscar e isso é parte de estar vivo. Cansei de morrer. Morri muitas vezes nos últimos anos, acho que estou cansada, sei lá, talvez eu venha morrendo há muito tempo, e eu não quero, logo agora que estou aprendendo a viver?
Minha vida vai bem, mas isso basta? Onde estão os significados que jurei que encontraria? Cada vez são mais perguntas e, com elas, o medo de derrapar pela ignorância, magoar quem eu gosto pelo privilégio de poder seguir ingênua a muitas questões, mesmo sem querer.
Tenho medo de nunca mais alcançar aqueles momentos de felicidade extrema da infância e da adolescência, tive momentos genuinamente bons, onde me sentia viva e aquilo parecia fazer sentido, ficaram para trás? Sempre parecem crus, bobos, passado e não presente. Isso é a fase adulta ou apenas depressão?
Minha vida vai bem, mas isso basta? Onde estão os significados que jurei que encontraria? Cada vez são mais perguntas e, com elas, o medo de derrapar pela ignorância, magoar quem eu gosto pelo privilégio de poder seguir ingênua a muitas questões, mesmo sem querer.
Tenho medo de nunca mais alcançar aqueles momentos de felicidade extrema da infância e da adolescência, tive momentos genuinamente bons, onde me sentia viva e aquilo parecia fazer sentido, ficaram para trás? Sempre parecem crus, bobos, passado e não presente. Isso é a fase adulta ou apenas depressão?
quarta-feira, 8 de janeiro de 2020
Novamente de última hora
Uno nace mientras el planeta gira
Los pulmones abren la nariz respira
Escuchamos al mundo con todo su alboroto
Los parpados suben y los ojos tiran fotos
Si salimos de la cuna para dormir en la cama
Nos crecen los brazos como crecen las ramas
Como crecen las hojas nos crecen las manos
Como crecen los días cuando madruga temprano
Los segundos los minutos y las horas
Germinan así como los días empiezan y terminan
Los meses se disfrazan según el meridiano
Otoño invierno primavera verano
Y se ajusta el camino a nuestros pasos
Así como el agua se adapta a su vaso
Nuestro corazón se aclimata a la altura
Y nos adaptamos a cualquier aventura
Pueden sumar con prisa pueden restar con calma
Da igual porque las matemáticas no tienen alma
Aunque calculemos todo y le pongamos nombre propio
Nuestro espíritu no lo pueden ver los microscopios
Nadie se puede acobardar nacimos siendo valientes
Porque respirar es arriesgar
Este es el momento de agarrar el impulso
Las emociones las narra nuestro pulso
Respira el momento
Respira el momento
En nuestra galaxia la historia se expande
Desde lo más simple hasta lo más grande
Crecimos junto a los cuerpos celestes
Somos el norte sur este y oeste
Somos la tierra con todas sus huellas
Una súper nova entre todas las estrellas
Absorbemos la luz de los rayos
Mientras la clorofila navega por los tallos
Los grados y centígrados calientan los termómetros
A 150 millones de kilómetros
Hay una vía láctea repleta de neuronas
Porque reproducimos mas ideas que personas
No somos pequeños ni muy grandes tampoco
Somos muchos y también somos pocos
Somos el golpe cuando aterriza
Y también somos la piel cuando cicatriza
La muerte nunca nos venció
Porque todo lo que muere
Es por que alguna vez nació
Lengua, beso, boca, labio, niño, joven, viejo, sabio
Calvo, rizo, pelo lacio, techo, casa, cielo, espacio
Sexo, orgasmo se humedece
Quizás nunca siempre a veces
Libro letra cuento narra ron con hielo o trago barra
3 Millones de latidos en un periodo mensual
Caminamos dando 10 mil pasos en un día normal
Crudo, hervido, asado, frito, guerra, iglesia, rezo, grito
Muy poquito demasiado, corro, vuelo, salto, nado
Puede llegar algún día el colmo de la biología
Vivir con sangre caliente pa' morir a sangre fría
Respira el momento
Respira el momento
En nuestra galaxia la historia se expande
Desde lo más simple hasta lo más grande
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