Essa semana foi interessante. Na verdade, o mês todo foi, proporcionalmente ao que foi longo.
Ontem fui conhecer o lugar que meu pai queria mostrar. Não vou dar nomes para deixar só meu relato, sem contexto a mais.
Vou pelo cronológico.
Meu pai chamou por meses, eu e Zil prometemos, aí ele teve dentista na mesma hora. Deixou a gente e prometeu que voltaria depois.
Entramos meio perdidas, já estava rolando uma interação ritualística em uma sala, a janela visível para a gente, fora do quintal. Alguém autorizou a entrada com as mãos, entramos, sentamos em um banco externo pronto para isso e esperamos. Esperamos e esperamos e, terminadas as cantorias e orações, começaram a arrumar o ambiente. Não sou muito boa com noção de quantidade, mas vou chutar que tinham umas quinze pessoas na organização. Todas sorridentes, mas focadas em suas tarefas. Em algum momento, uma delas, uma mulher, perguntou se já conhecíamos a casa e, com a negativa, contou como seria, mostrando o interior do local à medida em que falava.
O primeiro ambiente, uma sala com bancadas vermelhas espalhadas, seria onde conversaríamos com os pretos velhos. Ao lado estava a sala onde eles estavam cantando, onde, em nenhum momento, entramos. Seguindo por um curto corredor, outra sala de espera que dava para dois espaços, uma sala de cura azulada com uma base branca para deitarmos e, no mesmo local que a sala de espera, metade dela estava separada para passes.
Apresentado o ambiente, voltamos para o quintal, onde deveríamos sentar nos bancos na ordem exata em que chegamos. Esperamos em silêncio, algo que, anos atrás, teria me feito surtar. Dessa vez foquei em duas estrelas brilhantes no céu e, sempre que entediava, focava nelas. Chegaram algumas pessoas, maior parte da organização, menos uma mulher que sentou em nosso terceiro lugar. Antes que meu pai, que seria o quarto lugar, chegasse, fui convidada para conversar com um preto velho.
Me explicaram como deveria me movimentar e passei por aquela etapa que, diria, foi a mais interessante (não que o resto não tenha sido). Pessoalmente, gosto mais de conversar com mortos do que com vivos, e não estou aqui para questionar incorporações. Perguntei o que tinha para perguntar, recebi respostas condizentes, deixei uma pergunta para lá e, ainda assim, foi respondida, com a mesma palavra que usei em minha mente.
Foram só duas perguntas e me vi satisfeita. Poderia perguntar todas minhas curiosidades do mundo, se estrelas são infinitas ou se o tempo existe mesmo, mas me senti satisfeita com aquilo que vai fazer diferença aqui e agora. E, na verdade, só recebi confirmações, não estou reclamando, só satisfeita.
Nesse tempo, foram liberando a sala para todos os outros, então tudo isso aconteceu em meio a uma grande barulheira que, no mínimo, garantia a sensação de privacidade. Ainda assim, reparei que pelo menos seis organizadores diferentes prestando atenção no que estava acontecendo ali comigo e a carismática senhora que me respondia. Não deixei isso atrapalhar porque, como eu disse, gosto mais de mortos do que de vivos e meu tempo era limitado.
Sem mais perguntas, agradeci e disseram para que eu esperasse a 'próxima fase' (não lembro a expressão usada) lá fora. Já tinha um tanto de gente esperando sua vez, bem mais do que há cinco minutos antes, quando entrei, e sentei em um lugar diferente, só para facilitar a organização.
Embora meu olhar fixe (meio peixe morto) em estrelas, meu ouvido funciona bem. Ouvi instruções/críticas da 'chefia' para a pessoa responsável pela recepção (feitas de forma discreta e aparentemente delicada, mas ainda na nossa frente); ouvi, depois dessa primeira fase, o responsável avisá-la de que queria falar com a menina de branco (que, por acaso, era eu, mas mantive a cara de cu olhando as estrelas). Zil saiu. Meu pai saiu. Conversamos bem pouco, cada um preferindo o silêncio, pensar sobre o que tinha ouvido. Uns tantos minutos depois, um dos organizadores (sou ruim em fisionomia, mas creio que tenha sido o mesmo que ouvi antes), me chamou para conversar. Me levou para a 'sala de espera interna', entre a privada salinha e cura e o espaço onde seriam os passes ao final. Sentamos e ele começou a me contar sobre a, vou chamar assim por não saber qual seria a palavra correta, filosofia deles. Da parte teórica, da parte organizacional, da parte prática-espiritual. Achei interessante e também não vou explicar mais aqui, mas agi como costumo agir no desconhecido: presto atenção, mas falo pouco. O que posso dizer é que, mesmo achando válido, não me cabe, no aspecto filosófica. Não digo que seja bom ou ruim, mas trata de questões nas quais já pensei muito, por muitos anos, e já trouxe minhas respostas. Certas ou erradas, são as minhas.
Sou meio lerda, gosto de tempo para digerir o que penso sobre as coisas, então agradeci as informações e foi isso.
Voltei lá para fora. Esperamos todas as pessoas passarem pela 'primeira fase' e organizarem a próxima área, nessa sala de espera interna. Eu estava em primeiro. Passei pela salinha de cura, um ambiente azul e confortável, privativo e rápido. Todos passando pela sala, prepararam os organizadores para o último momento, onde os caboclos incorporam nos organizadores preparados. Me explicaram como seria, eu sendo a primeira da fila, e recebi o passe de três pessoas/entidades, a primeira sendo, por acaso, a pessoa com que consultei.
Foi legal, foi interessante e gostei de ter feito algo com meu pai, que hoje em dia se sente a vontade de convidar a gente para sair com ele.
Espiritualmente, não sou de grupos. Não curto hierarquia, não curto regras alheias e, muito menos, obrigações. Gosto de conhecer tudo, tô com planos de ir em uma gira aberta que conheci por aqui também, não agora, no futuro. Linhas diferentes são exatamente o que eu busco, diversidade.
Depois disso fomos num pico lanchar, comi esfiha graças aos deuses (finalmente achei um lugar que faz esfihas por aqui), meu pai devorou um cachorro quente prensado com costela, Zil comeu um pastel de caranguejo, a vida é muito boa kkkkk.
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