quarta-feira, 23 de outubro de 2019

Seguindo

Se eu cair ninguém me segura, ainda assim eu caio, se eu fraquejar ninguém me abraça, ainda assim fraquejo, não escolho as dores que vou sentir, só sinto e, vez ou outra, deixo ir, mas sigo, eu ainda estou aqui, sem ninguém pra segurar ou apoiar, me ergo a cada tropeço porque é deles que sou feita, uma soma dos erros passados e a oportunidade de, ainda assim, me amar. Se não eu, quem? Amor tem seu preço também.
Me afasto, dou um trago e reflito: se, viva, sempre parto, e sendo a morte um fato, seria ela só um parto a mais?
Sempre pensei muito na morte, desde criancinha, sempre fui daquelas que se perguntam quando vão morrer e se estão passando pelo aniversário de morte nesse momento, me pergunto o que vem depois, se tem depois, eu acho que sim mas se não tiver não vai fazer diferença. Nem sempre eu tenho certeza de que existe um "agora"...
Penso na morte mas não a desejo, esse não é um daqueles textos onde eu só quero que tudo acabe, penso na morte para lembrar que estou viva, que tenho voz, que eu amo me expressar, numa texto em computador ou num quadrinho no papel, eu amo estar aqui, influenciar, eu amo tudo que é o oposto de se esconder. Mas, há dois, três anos, me escondo. Com medo de não ser aceita por vocês (que nem deveriam importar tanto, seja lá quem forem), por medo de derrapar -eu mesma- nas minhas convicções e em como acredito que o mundo devia ser, com medo de me lançar ao conforto e só me enfiar em uma bolha, a que já me encontro, me escondendo de tudo aquilo que eu podia ser.
Mas eu ainda estou viva, porque meu livro não se escreve sozinho, porque minhas tirinhas merecem mais investimento meu e porque existe um cinismo em mim, desde sempre, lá no fundo, dizendo que quem não gosta de mim já tem algo em comum comigo, mas eu tenho que me aturar todo dia, mundo, vocês vão superar também.
Tô cansada de me esconder, quero voltar a ser espontânea, não quero calcular toda a forma com que vivo, isso nem parece comigo, não quero mais ter medo dos meus próprios erros, mesmo que machuque outras pessoas, eu odeio sentir que fui algo ruim para alguém mas não posso viver uma vida inteira evitando que isso aconteça. Eu não quero deixar de me importar, isso faz parte de mim também, mas isso é diferente de ficar tentando adivinhar se posso ou não ter machucado alguém por, sei lá, falar com a pessoa usando o nome dela no diminutivo (abrindo aqui a gaveta das paranóias cotidianas) ou ser sincera sobre algo que me incomoda, simplesmente.
Pessoas se ofendem com qualquer coisa, assim como eu, e se eu não quero que ninguém se adeque à mim também não faz sentido ficar me forçando a me adequar aos outros, por mais que eu goste deles e da sensação de pertencimento que, no fundo, nem sei se eu conheço. Se alguém se ofende com alguma atitude minha e escolhe o silêncio, me tira a oportunidade de ter ciência. Ninguém tem obrigação de me ensinar nada, fato. Nem eu de adivinhar.
Eu não tô feliz há um tempo, mas também não tô triste e, diferente dos momentos ruins da minha adolescência, também não tô vazia. Eu tô brava comigo, o que sempre tem um lado bom, mas ainda sinto um cansaço imenso ao sair de casa ou conversar com outras pessoas, algo que realmente não acontecia há uns dois anos. Não consigo identificar que evento me tornou assim, embora tenha minhas teorias, mas sigo na busca de me entender, de analisar e observar meu interior (isso é meio irritante mas é mais forte do que eu D:) e de lembrar que pessoas são legais (às vezes) e que eu tenho que dar chance de conhecer elas e que elas me conheçam, independente se vão gostar de mim ou não.

Termino essa baboseira aqui com um arrepentimento: devia ter ouvido mais Pitty na infância.

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