Aldair tinha família, tinha conta pra pagar, Aldair tentou de várias formas, aproveitou os benefícios, se esforçou, mas o boicote sempre chega, implacável, o momento do tapete puxado e o riso cínico, "o mundo tá cheio de oportunidades, se esforce mais", aí se esforçou, conseguiu entrar na faculdade, outra cidade, não vou entrar nos detalhes, Aldair ralou, ralou como via poucos ralando ali. Mas o boicote sempre chega, implacável. Perdeu a bolsa, perdeu a vaga, sem ônibus, sem comida, que escolha tinha? "O mundo tá cheio de oportunidades, se esforce mais". Lembrou da fórmula antiga, como uma velha conhecida, não era fácil mas funcionava, era uma oportunidade, se manteve na faculdade o quanto deu, quando não deu voltou a vender comida, voltou pra antiga cidade, precisou reconstruir, redescobrir, o negócio não ia bem, sempre acontecia algum problema, as vezes o clima, as vezes falta de sorte, as vezes o velho boicote em forma de estrutura ou estado, as contas chegaram, aluguel tá batendo, não sei o que tá acontecendo mas sei como me livrar. Aldair apelou, é verdade, que o julgue os covardes, um cara sem uma arma, disposto, com boa-vontade, sem tendência agressiva e muito pouca oportunidade. Vendeu? Se sim, foi para concluir a faculdade, queria ser doutor, mas doutor humanizado, tinha um sonho bem bonito, mas o boicote sempre vem, dessa vez em forma de giroflex, senhores da verdade, cara estampada da mídia e até sua versão da história, ridicularizada. Aldair têm aos montes com motivos variados, hoje a desculpa foi a planta, mas costuma se tratar de vontade estrutural, "o mundo tá cheio de oportunidades, só não tá dividido igual".
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