Sinto tanto, sinto muito. O meu amor transborda em mim e atinge todo o mundo. Eu amo o mundo, amo toda e qualquer pessoa que faz parte dele, amo todo ser-vivo, toda paisagem, toda a existência. Transbordo mesmo amor, as vezes em forma de lágrimas.
Ao mesmo tempo transbordo de uma raiva que faz com que minhas mãos fechem e minhas unhas machuquem a minha pele. Sinto raiva de ver toda a existência de uma vida desperdiçada pela sua condição social, sinto raiva de ver garotas se matando pelos comentários maldosos de outros, apenas porque são garotas descobrindo o sexo. Sinto raiva daqueles que tem tudo, mas que montaram em milhões de vidas para isso acontecer. Sinto raiva da injustiça, sinto raiva da desigualdade, sinto raiva da falta de mudança.
Acho a raiva necessária, porque uma pessoa sem raiva não tem a força necessária para sair da zona de conforto. Minha zona de conforto me é desconfortável, já que, enquanto tenho comida e roupa lavada, algumas pessoas não tem nem a companhia de alguém que as ama.
O que é uma pessoa sem amor? Não consigo nem pensar nessa possibilidade, porque me vi rodeada de amor desde que nasci, mas consigo sentir o quão triste deve ser essa realidade. E eu quero levar amor a essas pessoas.
Acho que vem daí a minha vontade de ser artista. Concordo com o que li em O Circo (possivelmente meu livro preferido): Um circo é uma ilha flutuante, formada de vários universos diferentes, que levam alegria a outros lugares. Não são exatamente essas palavras que foram usadas, mas a ideia geral é esta, e concordo com ela.
Também concordo (voltando um pouco ao assunto) com a frase "se você não é parte da solução, é parte do problema". Não adianta ver milhões de falhas no capitalismo e continuar comprando Mc Donalds; não adianta falar para todo mundo que acha que mulheres e homens devem ter os mesmos direitos (geralmente esse papo vem das pessoas que falam "não sou feminista porque acho que mulher não está acima do homem, mas do lado") e chamar de vadia uma mulher na rua com uma saia curta; não adianta falar que o racismo não existe mais no Brasil e compartilhar piadas do Danilo Gentili; não adianta falar que deus é amor e condenar homossexuais.
Peço por mudanças, e não só mudanças na mente. A conscientização é o primeiro passo, naturalmente, mas a atitude é o que faz a diferença. É nesse ponto que quero focar.
Assim como muitos provavelmente olham pra mim e pensam "é fácil falar em mudança vivendo desempregada na casa dos pais", eu também vejo isso. Sei que sou desempregada e moro bancada pelos meus pais, mas também sei dos meus planos, meus prazos, e sei que estou fugindo de tudo que não acredito. Estou feliz, porque estou perto de poder viver da forma que acredito.
E, quando isso acontecer, espero poder mostrar pra vocês que, sim, existe vida fora do capitalismo.
E, sim, é uma vida digna, embora privada dos tantos confortos em que nós nos apegamos. Ainda bem!
Espero que, assim como eu, vocês também transbordem de amor e raiva. Espero que vejam quanta coisa errada há no mundo, e percebam que, sim, nós temos responsabilidade sobre tudo isso.
Espero que a gente aprenda juntos, e que um dia a gente consiga mudar tudo de errado.
Rumo à liberdade, que tal?
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