quinta-feira, 6 de junho de 2013

Um conto sobre ninguém

Bons anos se passaram desde que tudo aconteceu. Hoje eu tenho minha casa, estou formada -relativamente bem sucedida, me arrisco a dizer-, e, adivinhe, com sua filha em meus braços.
Batizei-a de Pietra, o nome que você queria dar à sua primeira filha, o nome da sua avó.
Ela não sabe da sua existência, eu não tive coragem. Como posso explicar que tudo começou e terminou nas chuvas de Abril? De qualquer forma, ela ainda não entenderia, é só um bebê.
Não sei porque resolvi lhe escrever agora, nunca mais tive notícias de você e sei que posso estar invadindo sua vida, que há muito já deve estar formada. Você provavelmente tem a sua mulher, e a sua família. Antes de qualquer coisa, deixe-me esclarecer: não desejo seu dinheiro, nem desejo que largue o que hoje você tem.
Escrevo da varanda da minha casa. É um ambiente gostoso, dá para um pequeno bosque e, por ser alto, tenho uma boa vista do céu azul. Algumas nuvens brancas correm enquanto minhas letras vão aparecendo no papel, e como essas nuvens me lembram Abril! Lembra-se? Aquelas nuvens fofas com a "base" levemente achatada?
Mas então as nuvens vão, assim como você foi.
Mas, ao menos, deixou-me Pietra, que me aquece nas noites frias e me conforta quando chegam os trovões de Maio.
Maio, sempre detestei Maio. Foi em Maio que tudo acabou, foi em Maio que você, ah, como colocar em palavras? Foi em Maio que a normalidade voltou para nós.
Não quero me alongar muito, não pretendo voltar a fazer parte da sua vida, não fomos feitos para casamentos e família, somos feitos de sonhos, feitos das nuvens de Abril. Nós vivemos, e vamos embora.
Eu só queria que você soubesse da sua filha, e de que, no momento certo, ela saberá quem era o pai, e o que foi o nosso momento. E gostaria de que você soubesse que, não, eu não esqueci. Nunca esquecerei.

Da sempre sua,
                        garota de Abril