O problema de me reapresentar é que as pessoas conhecem o meu eu de agora, que é vitimista, ainda tá entendendo os traumas e seus reflexos, ainda tá desarmando as minas.
Eu não escondo essa vulnerabilidade, porque tô aprendendo a aprender com ela. Mas é difícil explicar que é uma fase, que eu não sou essa ameba que me vendo, que é um momento. Eu sei que é um momento, mas às vezes esqueço de avisar os outros de que sei disso.
Vejam, eu temo muito muito minha própria ignorância. Fui punida por tudo que sabia ou deixava de saber, eu nem sei porque fui tão punida, se permiti mesmo tentando evitar, se fui de encontro, sei lá, eu só sei que, desde criança, toda vez que tentei ser eu tive alguém avisando que eu não devia fazer isso. Não sei se eu sou errada e as pessoas me avisam por cuidado, não sei se elas são apenas "opressoras" tentando me boicotar, não acho que a vida seja preto no branco. Mas é um fato: eu fui muito podada na vida, desde criança, naquilo que nem precisava ser podada, naquilo que eu tinha de melhor. Adolescente, fui para o mundo, e aí me podaram de novo, porque esse era o único mundo que eu conhecia, não fazia sentido buscar algo diferente sem nem saber que existe algo diferente.
Ainda não sei se existe, na verdade. Sei que tenho um objetivo, hoje eu quero ser eu, independente se gostem ou não. Ainda estou descobrindo o que significa ser eu, claro, e acho que isso vai pela vida toda, mas quero bancar minhas posições, como sempre tentei fazer, mas não quero sofrer a represália de um mundo controlador e, no mínimo, tosco.
Na adolescência eu me achava a super heroína, inquebrável, já passou tempo o suficiente para entender que isso já se foi, que ninguém é inquebrável e tudo bem. Mas ainda tô me reconstruindo, talvez pela primeira vez e, embora eu constantemente tenha raiva ou frustração pela demora em fazer isso, eu conheço meu ritmo. Eu aprendo devagar, mas aprendo bem. Tive que entender isso, principalmente em âmbito profissional. Talvez eu não tenha o ritmo que os outros esperam, mas eu aprendo bem. Eu sei disso.
Tenho tentando manter o equilíbrio. Não sou uma super heroína, não sou uma vítima. Não sei bem quem eu sou no meio de um mundo além do meu controle, mas tenho algumas respostas que nunca mudaram.
Sou escritora. Sou alguém que ama olhar pro céu e identificar constelações. Gosto de cantar alto na praia de noite, onde ninguém me ouça e me atrapalhe ou julgue. Sou impulsiva, com tendências a justiceira, sou capaz de me por em perigo por uma causa social, sei porque já fiz. Sou violenta, mas controlada, sou violenta porque tenho em mim uma chama eterna que, hoje, ainda é raiva. Gosto de identificar bichos, principalmente silvestres. Gosto do meu conhecimento em reconhecer pássaros ou cobras. Sou fã da minha forma de não desistir mesmo querendo muito. Sou lerda no aprendizado, porque quero aprender tintim por tintim, quando aprendo, aprendo direito. Sou tagarela, mas converso mais ainda com meu blog ou com gente morta. Amo meus pais, mesmo sentindo que só sou vista agora, ultimamente, amo eles, mas tenho ressentimento de ter passado a adolescência invisível a eles, mas na rua, vivendo como se o mundo não fosse o que ele é. Tenho ressentimento deles não terem tido paciência comigo, assim como o resto do mundo inteiro parecia não ter, e de ter que ter aprendido por mim mesma que, além de todas as questões que eu lidava e eram pesadas para minha idade, o que eu sentia tinha nome e era depressão, não rebeldia. Sou brava com meus pais que, aos quinze, eu tivesse tantos problemas que eles nem imaginavam e, ainda assim, se falassem liberais e fossem vistos assim pelos meus amigos, que também não podiam falar com os pais deles, mas podiam falar com os meus sobre coisas que eu não podia.
Sinto que fui muito burra em vários momentos da vida. Em outras horas, sinto que isso é a vida, e a gente vivendo. Hoje Mica brigou comigo pelo jeito que me vejo e me porto, é aquilo, como explicar que eu estou aprendendo agora que eu posso gostar de mim? Eu fui punida a vida inteira por ser eu, isso não é um vitimismo, isso é uma merda de um fato. E eu sei que preciso mudar, preciso mesmo, tenho que deixar essas coisas para traz, mas ainda tô aprendendo que coisas são e o quanto influenciam em mim hoje. Por isso terapia semanal, oh céus.
Tenho aprendido que essa é parte da minha história. Não ela inteira, porque não sou moinho de vento, mas parte. Talvez eu precise rodar no mesmo lugar até entender como seguir adiante. Eu tô doida para seguir adiante, mas só sei fazer isso tendo coragem de viver dia a dia e, principalmente, pensar sobre mim. Que diabos, amigos!
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