sexta-feira, 17 de janeiro de 2025

Inversões naturais da vida

Meu pai precisou sair de casa hoje e, como minha mãe ainda tá sentindo forte os efeitos da radioterapia, pediu para eu ir lá, não queria deixar ela sozinha e tals. Tinha umas coisas para fazer, naturalmente, mas fui, tava com saudades da coroa, tenho ido pouco lá porque vou viajar e quero deixar tudo pronto...

E eu sempre saio de lá otimista. Sei que a situação não é simples ou fácil, minha mãe odeia ser alguém que precise usar uma cadeira de rodas num hospital (embora, racionalmente, ela saiba que não existe absolutamente nenhum problema em precisar de um item que foi feito exatamente para ajudar, por uma vida ou por um momento, emocionalmente dói), odeia precisar de ajuda para levantar e lavar as mãos depois de uma manga que, surpreendentemente, ela conseguiu comer, enfim, ela é agitada demais, sempre foi, para uma vida no sofá vendo tv (embora ficar no sofá vendo tv esteja no top 3 de coisas que ela mais gostei de fazer. Massa escolher é diferente, entendo isso). 

A questão é que, aos poucos, sua voz fica mais forte. Beeem aos poucos, tem dias e dias, o apetite aparece (hoje mesmo ela comeu bem, até, para os padrões). Hoje de tarde, embora tenha tido uma manhã difícil ao ir para o hospital buscar a quimio oral, não dormiu, conversamos bastante e, embora ela esteja com certa confusão mental que também é esperada nesse momento pós-radio, ela percebe quando acontece e, em vez de se incomodar ou ficar ansiosa, consegue dar risada. Porque é um momento e vai passar. Foi pior do que ela esperava, mas foi avisado que seria braveza por um tempo, no geral ela costuma das sorte, mas não dá para passar um tratamento forte desses com o único efeito sendo uma eventual perda de cabelo. É mais que isso. 

E passa. Passou das outras vezes e tô confiante de que passe nessa fase mais complicada. Acho muito estranho ver minha mãe sem fome (e por isso volto feliz hoje, que ela comeu legal), querendo levantar e sem conseguir, querendo viver e sem força. É foda. Meu pai tem estado meio sobrecarregado, tá cuidando dela, de uma casa grande, de dois cachorros malucos e dois gatos onde uma é capaz de fazer suas necessidades em qualquer lugar inimaginável menos na caixinha. Eu tô tentando ajudar, mas moro em outra casa, tenho minhas responsabilidades e um limite. Não um limite para a vontade de ajudar, para a capacidade mesmo.

Fico meio nervosa quando penso que vou viajar. Tenho certeza de que todas as cervejas que bebi nessa semana, que não foram poucas, tem a ver com isso. Me assusta ficar longe deles nesse momento. E eu sei que vou, porque minha amiga me quer em um momento importante e eu quero estar lá com ela. Sou eu vivendo minha vida, sei que não tô errada por fazer isso, não se trata de culpa, mas e se acontecer alguma coisa? Odeio pensar que as filhas estarão todas longe ao mesmo tempo.

Fiz um esquema bom para ambos com Iago, ele vai cuidar aqui de casa, dos bichos, quando eu estiver fora. Preciso achar alguém que me passe segurança de acompanhar meus pais também, só em nome da minha ainda existente ansiedade, haha. Eles são adultos, sei que vão ficar bem.

Mas também são idosos e malucos (hahah, consigo ver minha psicóloga revirando os olhos pra mim agora), eu quero estar de olhooooo!!!

Enfim. Lidarei com minhas neuras, vou me divertir na viagem, meus pais vão ficar bem e eu vou voltar para continuar minha vida (é errado porque é falso, mas às vezes eu sinto que minha vida trava e fica parada quando vou para Curitiba). Que nervoso em voltar a viver!

Tenho um rolê com uns amigos amanhã, num lugar que nunca fui e tô animada para conhecer. É difícil hoje em dia sair de casa e fazer isso, mas vou me esforçar e vou, porque sei que vou gostar. 

Volto com novidades, espero!


Nenhum comentário: