Tenho um jantar de família agora.
Odeio jantares de família no improviso, não dá tempo de pensar nas minhas falas antecipadamente.
Bom, as coisas de sempre... "Tá estudando?", "Como vai o namoro?", "Tá MESMO estudando?", "Colocou outro piercing? Daqui a pouco não passa no detector de metais", "Quando você vai tirar esses trecos horríveis do cabelo? Parece crina de cavalo".
Apenas o básico.
Geralmente nesses jantares eu discuto com minha mãe. Raramente na frente dos outros, claro, afinal, somos uma família perfeita e feliz (Embora o Tio Zé, o único sensato, saiba muito bem que não. Já desabafei horrores com ele quando eu tinha direito pra isso).
Mas hoje foi diferente, já discuti com a minha mãe antes até de sairmos.
Essa merda de Vestibular, essa porra de ENEM.
Já não durmo direito, meu cabelo está caindo aos tufos (No banho sempre acho que ficarei careca em pouco tempo), não sinto mais fome (Um dos maiores sintomas da minha ansiedade. Só tem uma questão: Eu TENHO que comer, estou anêmica), não consigo me concentrar, não consigo nem raciocinar direito.
Ainda tenho que aguentar uma mãe que vive me cobrando, um pai que nem fala comigo e uma irmã INSUPORTÁVEL que é melhor ficar longe de mim antes que eu faça alguma besteira.
Minha mãe acha que eu não estudo.
É, ela está certa.
Mas ela também não sabe que estou vendo meu namorado por pouquíssimo tempo, e quando fui dormir na casa dele perdemos boa parte do tempo que tínhamos para ele me explicar geografia.
Ela também não sabe que o Dih está pegando vários livros do vestiba, e que depois de ler me empresta e tenho um prazo de praticamente um dia pra ler cada um. É o suficiente, mas me toma tempo, de qualquer forma.
Ela também não sabe que estou montando um grupo de estudos (E espero que dê certo).
E que ao mesmo tempo estou planejando uma campanha anti-homofobia no colégio, antes que um professor seja expulso por preconceito.
E ela não sabe o quanto de coisas estão passando na minha cabeça neste momento, algumas envolvendo sal, limão, agulhas e bonecos voodus da minha irmã mais nova.
Eu gostava mais quando a coisa mais louca que passava pela minha mente era sal, limão e tequila.
Neste momento, eu gostaria de explodir o jantar em família, a refeição (Não estou com um pingo de fome), o vestibular, o ENEM, as responsabilidades, o ano que está passando depressa demais pras coisas boas e devagar pras ruins, os problemas que estão me torturando e não posso contar pra ninguém, os meus professores ruins (E esse ano estou com poucos realmente bons), o sistema de blocos, o Enzo (Só pq não gosto dele), a Madselva (Pq ela tem um cabelo feio) e o Marvin, que me deu inspiração para fazer este post.
Que merda, que merda, que merda.
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