Finalmente me encontrei, mas esse texto não é sobre isso (é também).
Minha mãe é muito amada. E minha mãe foi uma pessoa difícil (hoje menos do que antes, mas o máximo que ela consegue sem deixar de ser quem é, o que ninguém quer).
Ou seja, ela teve coragem de ser quem ela é até o fim. Perdendo quem fosse, mantendo até o final (que não chegou) que importa.
Herdei amigas da minha mãe. Demorou para conseguir ocupar esse lugar, mas acho que chegou o momento. De mostrar que entendo elas e de mostrar que eu sou.
Mesmo processo com meu pai, mas esse começou antes e está bem adiantado. Acho que, hoje, tenho a relação que sempre quis com ele.
Muita gente se preocupa conosco, sei que maior parte por afeto, mas existe certa insegurança. Eu não tenho dúvidas de que estamos prontos para uma vida sem minha mãe, na medida do possível, não se trata de preparação, a gente não quer, amamos ela por completo, não por obrigação familiar, queremos ela ao nosso lado. E, de verdade, mesmo que alguns me achem iludida quando falo, acredito que minha mãe tem muito tempo ainda. Quando falo muito é pra mais de ano. Sei de toda a parte racional, sei que não é bom criar expectativas, mas o que posso fazer? Sinto em mim que esse não é o último aniversário dela. Pode ser? Pode. Só não acho que seja, não que minha opinião importe grandes coisas. Mas vou adorar se, em um ano, escrever um texto assim torcendo pelo próximo. O câncer é um safado inconstante, a gente só pode torcer. Mas a minha mãe é uma pessoa com câncer que anda 10 (DEZ!!!) km diariamente (ultimamente pegando mais leve só por achar que deve), ela está com MUQUE nos braços (um muque respeitável, na moral), ela está bronzeadinha, o que tentava antes do safado e enfim conseguiu...
O que eu quero dizer é o que fui aprendendo sobre essa parada toda. No câncer você precisa se preparar para acontecer tudo, inclusive nada. Não tenho medo de falar o nome da doença dela, não finjo que não tem nada acontecendo. Mas se eu ignorar que a bicha tá saudável e com mais vivacidade que muito jovem eu também tô doida. Não tô doida.
Hoje vi muita gente se esforçando para mostrar para minha mãe, cada um da sua forma, que amam ela. Foi muito mais do que imaginávamos, fiquei realmente grata, ninguém tem obrigação de nada, mas demonstrações de amor ainda existem, acho que hoje encontrei um pouco do que buscava aqui, um grupo que, bem ou mal, ficou junto por anos. Estamos na próxima geração e muita coisa mudou, mas tem coisa aí que eu quero manter.
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