Amigos, que ano interessante. Tinha tudo para ser desesperador, e foi em vários momentos, mas também provou que vários medos do passado não estão mais aqui.
Cada ano fica mais difícil fazer uma retrospectiva, mas faço por você, Lua-do-futuro-que-sei-que-lerá. Sempre foi por mim, sempre será, e por isso eu continuo.
Janeiro -
Dia 2 minha mãe confessou que, desde 29 de janeiro, sabia estar com câncer. Eu não fazia ideia e foi um choque, naturalmente. Tampouco soube, tive que me agilizar para ir na formatura da minha amiga Tati, pô, uma honra o convite, acompanhei o esforço, fiquei feliz de ir. Mas tava com medo. Medo de Curitiba, medo de me afastar da minha mãe, que, pouco tempo depois, acabou indo para lá também e, no fim, que bom que eu estava. No primeiro dia em Curitiba briguei com alguém que já não sabia se era amigo ou não. No fim, descobri que não importa muito. Meu lugar não é Curitiba, minha casa não é lá. Embora eu ame quem deixei para traz, só quero manter quem me ame também. Mas eu sei quem são?
Quando estive em Curitiba, meus amigos de Aracaju me ajudaram muito com meu núcleo familiar, meus bichos, que dependem de mim. Eles foram incríveis, inclusive quando a viagem se estendeu porque minha mãe foi para lá para entendermos melhor a situação dela.
Também foi a primeira vez que fui para Curitiba na posição turista. Fiquei num apartamento que não conhecia, em SJP, que foi novidade, e tudo estava diferente.Fui pronta para considerar Curitiba viagem, cheguei e talvez tivesse que ficar lá com minha mãe por tempo indeterminado. Questão de saúde, nunca negaria, considerei morar em Curitiba pelo tempo necessário. Hoje sei que isso não era o desejo da minha mãe, ainda bem, mas, se fosse, eu estaria lá.
Pelo menos, enquanto estive lá, fiquei ok. Na minha, trabalhando, vivendo e cuidando de mamãe. Brava com tudo isso, mas lidando. Foi horrível, na verdade, mas eu tinha em mim que a gente ia investir no que pudesse na base da raiva. Minha mãe está aqui e nada foi tão fácil, mas ela está aqui. Porra! Vitória!
Fevereiro -
Entre aproveitar Curitiba sabendo que tinha passagem de volta, recebi a notícia de que a Maia nos deixou. Bateu forte, mas não sofri tanto lembrando que ela tirou rum bom rolê antes de partir, foi feliz.
Voltei para casa, minha mãe também (não nessa ordem). Ela começou o tratamento, quimioterapia venosa (Taxol) para o câncer de mama.
Março -
Mãe foi seguindo no tratamento, pouquíssimos efeitos colaterais e o tumor do seio diminuindo. Cabelo foi a pior parte, e nem deveríamos ter sofrido tanto sabendo que cresceu de novo. Aniversário da minha queridíssima amiga irmã Raquelzinha Raqueline Maria Raquel, ou seja, um ano de que fui pra Minas de surpresa ver ela, hihih. Tava com culpa de deixar Ramelão na casa dos meus pais, ele tá lá até agora e eu sei que é bom pra eles porque a cadela deles é uma psicopatinha e ele de certa forma controla. O tumor da minha mãe foi diminuindo, o que foi ótimo, mas não se manteve, e eu fui no médico dar entrada em exames de sangue que nunca fui muito atrás novamente. Mas não passei mal, toma essa, ansiedade.
Abril -
Consegui meu trabalho preferido em toda a vida. Refleti sobre morte porque a namorada de um amigo se foi e esse tema me deixa muito triste. Mãe botou um catéter que, por falta de opção (no geral viva o SUS, mas essa foi foda), era um mamute imenso.
Maio -
Ahhh, eu costume gostar de maios. Ajeitei umas coisas em casa, trabalhei um tanto, pensei em mim, me mimei com farinha láctea, eu gosto de maios. Além disso, estava (ainda estou) nas nuvens pela oportunidade que recebi de uma pessoa maravilhosa: escrever um romance remuneradamente. Meu sonho, o começo dele.
Junho -
As coisas em relação a esse livro foram ficando cada vez mais legais. Tirei uns rolês com minha chefe, conversamos muito sobre desejos, expectativas, pude conhecer melhor ela e a pessoa incrível que ela é, o que só colabora para fazer um livro que a represente. Sinto que pude me apresentar para ela a versão atual, a maluca, e ela ao que parece gostou. Uau!
Minha mãe teve umas febres, tinha sido o pior momento até então. Até que passou. E Zil veio morar aqui!
Julho -
A vida estava na rotina, mas numa rotina muito confortável. No mais, apresentei Zil para Mica e Fabrício, o que foi bacana porque curto muito eles. Minha mãe estava oscilando entre cansaço e resiliência fudida. Recebemos a Nanda e o Carlão, meus primos, e foi legal.
Agosto -
Olimpíadas. Nada mais importa. Vai Brasil. Os gatos vieram de Curitiba para Barra, ihuuu, Cali e Mandela são tãããão pequenininhos perto dos meus três godzilas! Eu tava encantada com meu trabalho novo (isso não mudou). Eu, meu pai e a Zil fomos num lugar de descarrego que meu pai queria que a gente conhecesse. Foi legal, mas eles me chamaram numa salinha para dizer basicamente que eu e meus mortos não poderíamos nos inicializar (nem queremos!) porque misturamos linhas (com orgulho!). Manuzinha me chamou para ser a madrinha do casamento dela, eu aceitei e vou, tô tão feliz por ela! Troquei meu chuveiro por um maravilhoso que me deixa feliz toda vez que penso nele. Minha mãe trocou o cateter jumbo por um tamanho humano, e isso tem sido ótimo até então.
Setembro -
Comprei a passagem pra Curitiba, casamento da Manu. O Duolingo incluiu música e, a partir daí, comecei a me interessar por teclado (hoje todo algumas besteirinhas até, olha só!). Eu passei parte desse ano sentindo falta de um amigo que se afastou, fui lidando com isso com as novas músicas da Fresno e Linkin Park na formação nova (adorei).
Outubro -
Zil foi obrigada a morar aqui um tempo e isso, embora tenha sido legal de várias maneiras, nos surtou um pouco. Lidamos bem, mas não deveríamos. Meu mês foi baseado em eu e a maravilhosa psicóloga tentando botar um quebra cabeça de 70000 peças e todo preto pra fazer sentido. No fácil a gente não quer, não. Vi uns pica-paus eventualmente aqui em casa, acho isso felicidade no estado mais puro. Resolvi mudar a cor do cabelo (consegui durante cinco dias e desbotou grr).
Novembro -
Novembro é aquilo né, se a nova geração escolheu outubro (Chico, Peixinho, Zil), a antiga tá toda em novembro (pai, mãe, Lu). Foi um mês de muita socialização, no geral. No aniversário da minha mãe, pelo menos três amigas delas vieram desabafar comigo, ou questionar, ou demonstrar preocupação, enfim, as confidentes dela estão com medo dela, não julgo, alguém lá sabe o que dizer para outra pessoa que está doente? Mas eu gosto de focar na realidade. Minha mãe iniciou o ano com um câncer, está terminando com três. Ela também não achou que viveria o aniversário dela, e viveu. A gente não sabe o que vai acontecer, mas o que me importa hoje é que minha mãe tá aqui, eu posso conversar com ela, abraçar. Em novembro Manu também conseguiu vir aqui, trouxe meu convite, meu kit de madrinha, eu tô tão feliz, sabe? Espero corresponder, hahah. Mas eu amo muito Manu, fico feliz por ela.
Novembro minha mãe começou a radio para o câncer do cérebro. O médico avisou que só depois do término (dez sessões por 10 dias úteis seguidos) que veríamos os efeitos. Eles chegaram e, hoje, estamos lidando, mas eu e meu pai gostamos de pensar que o pior desses efeitos já passou.
No fim do mês, fomos para Penedo ver meu tio que mais me apoiou e foi inesperado e delicioso.
Dezembro -
Aqui estamos. Não vou fingir que esse resumo do ano não foi porco, foi, desculpa aí, Lua do futuro (mas podia ser pior kkkkkk podia ser problema meu) (epa?).
Trabalhei que nem uma safada, recebi minha amada irmã Lu e meus lindíssimoooooos sobrinhos (gosto de reafirmar que mataria qualquer um de vocês por eles. Desculpa, é só a verdade), estamos lidando com a saúde da minha mãe que, entre fraqueza e falta de fome, tem melhorado a cada dia. Eu amo minha coroa, meu coroa, minhas irmãs. Acho que 31 é a idade de ficar ok com o núcleo familiar? (risos).
Fluminense escapou da série B (n detalhei, mas ô ano sofrido). Terapia salvou minha cabeça por mais um ano (valeu Andressa). Minha amiga Raquel segurou as pontas da minha sanidade diversas vezes durante o ano (amiga, você sabe que mato e morro por você! Sua adotadora de gatos!), Manu fez eu me sentir amada diversas vezes, Anandinha que tô com saudades, Mica e Fabrício que, além de serem muito legais, ainda trouxeram Edgar de novo preu brigar que ele mora em SP, Pedrinho, Pedroso, ahh, é uma galera que me apoiou de várias formas, sabendo ou não. Não citei todo mundo, mas quem sabe, sabe.
Já mencionei que o Flu não caiu?
Eu tô na última página da minha agenda, o que é triste, porque sou viciada em agendas, mas é esperado. A graça de ter agenda é, de certa forma, ver ela acabar, pelo menos para mim.
Fiz um resumo bem resumido do que foi meu ano, o suficiente para no futuro ler e ver o subtexto (atenção, Lua do futuro, se você ler e não entender é porque você é burra).
Tenho muitos planos para o próximo ano, acho que a mudança tá aí, voltei a planejar e sou porreta o suficiente para conseguir o que quiser na base do ódio e da falta de vergonha na cara, Quero chegar no Japão, pelo menos durante um mês. Se não rolar, ok, sei que não é tão simples. Mas a palavra é o primeiro passo, etc.
E, Lua, tenta mudar aí o emprego que tá te incomodando e foca nos que você tá amando. É simples na prática e difícil na teoria, mas, na verdade, tá uma bosta na prática. Resolva. Se estiver nessa em 2026 muda URGENTE a estratégia, deixa de ser otária. Grata, Lua versão 2024.
Quero viver, quero viajar, trabalhar dignamente, escreveeeer, quero escrever que nem uma filha da puta condenada a escrever, bem ou mal, desgraça, quero demais.
O ano foi incrível. Poderia reclamar de mil coisas, minha mãe tem três cânceres. E tá aqui, e eu converso com ela, e eu sou tão grata por isso. Tudo que posso pedir é mais um ano disso, e aí mais um, e mais um, e assim vai.
Pela primeira vez me sinto ok com minha família que importa, por mim vale. Que ano doido, amigos.
Ow, Lua, se chegar em 2026 sem tatuar você precisa resolver, eu já tô doida agora, imagina daqui um ano! (Sei lá como estarei daqui um ano, mas sou metidinha e cobro mesmo).
Amigas, está aí. Uma retrospectiva de bêbada, como vários anos, e feita meio na preguiça. Mas faço isso pela nossa versão intertemporal que mete o louco e lê as coisas como passado, presente e futuro, que nem os fantasmas do Natal mas com mais cinismo e menos revisão de texto (absolutamente menos).
Eu gostei de você, 2024, seu fuleirinho cretino. Foi tipo o treinamento do Batman para enfrentar os perigos futuros, mas sem histoplasmose.
FELIZ ANO NOVO, AINDA ESTAMOS AQUI (ANTES E DEPOIS DO FILME DE MESMO NOME VIRALIZAR)